A figura do pai é tão importante no contexto familiar que Deus desejou que seu filho Jesus, vindo ao mundo, tivesse um. São José foi o escolhido para assumir a paternidade adotiva do Menino Deus. Um humilde carpinteiro, desposado com Maria, homem justo e sempre pronto a cumprir a vontade de Deus. Com coração de pai: assim José amou a Jesus.
Declarado como Padroeiro da Igreja Católica pelo Beato Pio IX, é reconhecido como Padroeiro dos Operários pelo Venerável Pio XII e São João Paulo II o chamava de Guardião do Redentor.
Um pai amado, na ternura, na obediência e no acolhimento, com coragem criativa e trabalhador, estes e tantos outros predicados que o Papa Francisco usou para descrever São José. E o fez ao declarar o Ano de São José (de 8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021) na Carta Apostólica Patris Corde (Com o Coração de Pai), por ocasião dos 150 anos da declaração do santo como Padroeiro da Igreja Católica.
No segundo domingo do mês de agosto, tradicionalmente no Brasil comemora-se o Dia dos Pais. Embora os apelos comerciais sejam exaustivos e querem dominar a data, para os cristãos é uma oportunidade de refletir sobre a paternidade e a família. Essa também marca o início da Semana Nacional da Família celebrada pela Igreja do Brasil.
É na família que começa a história de todo ser humano, chamada por Deus a ser testemunha da fraternidade e do amor, colaboradora na obra da criação divina.
Ser pai é um dom, uma vocação e uma grande missão dada por Deus para os homens. Na Carta Apostólica Patris Corde, o Papa Francisco destaca que o homem se torna pai não apenas porque coloca um filho no mundo, mas porque cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito.
Infelizmente essa não é a realidade de muitas crianças em nosso país. A cada ano, 6% das crianças nascidas no Brasil são registradas sem o nome do pai na certidão de nascimento. O dado é da Central de Informações do Registro Civil.
Segundo o último Censo Escolar, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e divulgado em 2013, há 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão de nascimento.
Se o pai é presente na criação dos filhos, participativo na educação, afetuoso e amoroso, ele contribuirá significativamente com o desenvolvimento linguístico, social, emocional e cognitivo da criança. Também a ajudará a ter uma autoestima mais elevada. Por outro lado, a falta da figura paterna pode causar feridas emocionais que persistem por toda a vida. “A ausência da figura paterna na vida dos filhos produz lacunas e feridas que podem ser também muito graves”, afirmou Papa Francisco em audiência-geral do dia 28 de janeiro de 2015.
Dom Ricardo Hoepers, bispo da Diocese de Rio Grande (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria, fez um importante alerta: “Vemos a crise da paternidade no mundo atual que traz consigo a crise de valores, de lideranças, a crise moral. Recuperar a presença paterna é reconstruir a figura de Deus Pai em cada pai humano e São José nos ensina como viver essa experiência de paternidade à sombra da paternidade divina”. Para o bispo é preciso que “deixemos de ter somente uma devoção a São José para buscarmos nele um exemplo a ser vivido no cotidiano familiar”.
São muitas as adversidades que não somente um pai, mas as famílias enfrentam na responsabilidade de educar os seus filhos. Segundo Dom Ricardo, o maior desafio é enfrentar a contracorrente de valores: “As novas gerações valorizam muito os modelos tecnológicos que apresentam um estilo de vida sem precisar de Deus e sem precisar da comunidade eclesial. É a cultura do individualismo consumista, a mais perversa que atinge as novas gerações de todas as famílias”.
Sobre a catequese dos filhos, ele ressaltou que a tradição da Igreja entende que os pais têm a responsabilidade de educar na fé, primeiramente com o testemunho de sua própria: “A vida de fé dos pais ecoa no coração dos filhos na medida em que eles estão sempre dispostos a viver na Igreja doméstica os valores cristãos colocando em prática, em casa, a vivência do Evangelho”, comentou.
O prelado acredita que os pais têm a árdua tarefa não só de garantir a vida de fé, mas também garantir a vida de comunidade e de unidade na própria casa em torno dos valores cristãos.
Ensinar a amar a Deus e escutar sua Palavra será sempre o melhor dos ensinamentos que um pai poderá deixar para os seus filhos. Ser um bom exemplo, ensinando valores e princípios para as crianças desde cedo. Assim procura viver o analista de sistemas Rene Rodrigues do Nascimento, 35 anos, casado há seis anos com a jornalista Renata Cristina Pereira do Nascimento, 33 anos. Eles são pais do Bento e do Pedro, 4 e 2 anos, e estão à espera do terceiro filho.
Rene e Renata atuam como catequistas da Pastoral da Crisma na Paróquia Nossa Senhora do Retiro, em Pirituba, São Paulo (SP), e buscam educar os filhos à luz da Palavra de Deus e ser referências para os pequenos.
Devoto de São José, Rene se inspira no santo para bem viver a sua vocação de ser pai. Para ele, o que mais lhe chamou a atenção na vida do pai adotivo de Jesus foi sua disposição em cuidar e proteger sua família, em todas as adversidades pelas quais passaram, permanecendo firme na fé: “José confia em Deus, encara os desafios e não fica paralisado ou murmurando. Peço a Deus que fortaleça minha fé, a persistência e a sabedoria, para que, assim como São José, eu possa sempre me doar, nos momentos felizes e nos mais difíceis”, discorre.
Para Rene, um dos grandes desafios da paternidade dos tempos atuais é a educação das crianças, sobretudo vivendo em um mundo onde diariamente somos bombardeados por uma quantidade imensa de informações, boas e ruins, o tempo todo. “O desafio muitas vezes é conciliar e educar uma criança nessas condições, em que não podemos privá-la da própria realidade social em que vive, mas, em simultâneo, temos que indicar bons caminhos e ajudá-la a encontrar os valores corretos em meio a tudo isso”, destaca.
O analista de sistemas, que descobriu recentemente que será pai pela terceira vez, está feliz e agradecido com a generosidade de Deus para com a sua família, em lhes confiar mais uma vida para cuidar e amar. Para Rodrigues, a missão de ser pai não é fácil, porém, é gratificante: “A paternidade exige que você olhe para outro ser, totalmente dependente de você. Essa doação é uma dimensão do amor. Ser pai é uma oportunidade de amar mais e olhar além de si mesmo”.
Em um dos trechos da Carta Apostólica Patris Corde, o Sumo Pontífice explica por que São José foi um “pai na sombra” ou a sombra de Deus Pai. No documento, Francisco quis sublinhar como o pai adotivo de Jesus foi capaz de resistir à tentação de “decidir a vida do filho” e, pelo contrário, exerceu sua paternidade com grande respeito por sua liberdade e sua própria missão.
Rene fala sobre o conceito que indica que o pai deve ser como a sombra de Deus. Em sua experiência, “pai na sombra” é ser como um orientador, que deve estar sempre próximo, pronto para socorrer, educar e acolher, sem sufocar a liberdade dos seus filhos: “E assim como São José, devo sempre colocar a família no centro da minha vida. O pai deve ser o servidor da família, sempre se remetendo à paternidade mais perfeita, que é a de Deus, baseada no amor e na doação de si e não em tirania ou autorrealização”.
As expectativas desse pai para os seus filhos é que eles sejam pessoas boas e justas. “Que se desenvolvam e se esforcem para serem pessoas melhores a cada dia, pois sei que há um Deus que sempre nos auxilia”, encerra.
A figura da paternidade de São José é a expressão da própria paternidade divina que nele transbordou com sua graça e o tornou um homem capaz de suprir todas as necessidades da Sagrada Família.
Essa inspiração que procura viver o gráfico Wilke de Oliveira, 40 anos, casado há nove anos com Mônica Dantas de Medeiros Oliveira, 37anos, bancária. São pais do Antônio Lucca, 5 anos, e da Maria Eduarda, de 3 meses de idade.
Não somente possuindo uma devoção a São José, mas Oliveira se inspira na coragem e na força do santo, sempre dedicado à família, buscando nele um exemplo a ser vivido no cotidiano familiar: “Peço sempre a Deus que me dê a força e a sabedoria de São José, que me ajude a criar e educar bem os meus filhos, ensinando-os a serem dignos, a seguirem na direção certa, assim como o santo fez com seu filho, Jesus”.
Desde que se tornou pai, em 2016, Wilke percebeu que seu jeito de olhar o mundo e suas convicções mudaram, assim como as responsabilidades e as alegrias aumentaram. “A missão de ser pai é maravilhosa, acredito que todo homem deveria viver essa experiência. Ver o sorriso do seu filho, escutar ele dizer que te ama, acompanhar o seu crescimento, é tudo muito gratificante”, declara.
A fé herdada dos seus pais ele busca ensinar aos filhos, ainda que pequenos: a crença em Deus, o amor a Cristo e a devoção a Nossa Senhora, assim como os valores morais como o respeito, a humildade e o bom caráter.
O primogênito Antônio sempre os acompanha na santa Missa dominical e logo chegará a vez da Maria Eduarda, que também ouvirá os pais cantando no Ministério da Música da Paróquia São Domingos Pregador, em Osasco (SP).
Sobre os desafios da paternidade ele também é unânime em reconhecer que a educação dos filhos em um mundo cada vez mais distante dos valores cristãos é algo a ser vencido: “Eu busco sempre agir na verdade com meu filho, aquilo que prometemos nós cumprimos, mesmo as pequenas coisas do cotidiano, assim isso vai gerando confiança e vamos ganhando credibilidade com ele”.
“Peço sempre a Deus a sabedoria, pela intercessão de São José, para que eu possa ser um bom pai para os meus filhos, assim como bem prepará-los para o mundo, sempre oferecendo o melhor de mim para a minha família”, finaliza.
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