A catequese na Igreja do Brasil vive um desafio peculiar nos tempos atuais: formar discípulos e missionários de Jesus Cristo! Essa nova característica da evangelização concretizou-se na Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil, que ocorreu na cidade de Aparecida-SP, em 2007. Para atingir esse objetivo, no entanto, o caminho é longo… Denominamos esse caminho de Processo de Iniciação à Vida Cristã, algoantigo e bastante eficiente. Antigo porque recebe uma inspiração vinda das primeiras comunidades cristãs, o catecumenato, e eficiente porque coloca o iniciante em contanto permanente com a pessoa de Jesus Cristo, tendo como fruto principal a formação de um verdadeiro cristão.
O caminho da Iniciação data do século II depois de Cristo, com a estruturação do catecumenato para promover a adesão a Jesus Cristo e à Igreja. Era um processo contínuo, progressivo e dinâmico de preparação para os Sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia, marcado por etapas e ritos, utilizado para conduzir os adultos (e não as crianças), recém-convertidos ao cristianismo, à experiência do mistério de Deus. Teve seu período áureo entre os séculos III e IV e seu declínio no século V, quando ser cristão tornou-se uma situação comum e abriu-se a possibilidade de o Batismo ser ministrado preponderantemente às crianças. No século VI desaparece o catecumenato propriamente dito.
Apenas em 1972, com a promulgação do Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), o catecumenato voltou a ser fonte de inspiração e itinerário de toda a catequese. A partir de então, a preocupação é possibilitar a iniciação tanto para os não batizados (catecúmenos) quanto para os batizados insuficientemente catequizados (catequizandos). Nesse sentido, há várias situações em que se encontram pessoas a serem atendidas no processo de iniciação: adultos e jovens não batizados; adultos e jovens batizados que desejam completar a iniciação cristã; adultos e jovens com prática religiosa, mas insuficientemente evangelizados; pessoas de várias idades marcadas por uma religiosidade conflitante, ambígua e confusa; grupos específicos, como as pessoas com deficiência, indígenas, etc.; casais em situação matrimonial irregular; adolescentes e jovens; crianças não batizadas e inscritas na catequese; e crianças e adolescentes batizados que seguem o processo tradicional de iniciação cristã.
O processo de iniciação à vida cristã com inspiração catecumenal é aplicável a qualquer catequese sacramental (Batismo, Eucaristia, Crisma ou Matrimônio) ou a qualquer grupo que trabalhe com as realidades acima descritas. Especificamente em relação à catequese eucarística, o processo de iniciação oferece às crianças em idade de catequese o encontro pessoal e decisivo com Jesus Cristo. Não mais se trata de uma catequese que orienta a decorar as orações e a doutrina, mas incentiva a vivência em comunidade, que tem como finalidade “o ser cristão” e não apenas a sacramentalização, conscientizando que os Sacramentos alimentam esse processo e são sinais visíveis do próprio Jesus.
Antes de compreender como está organizado o processo de iniciação à vida cristã e a inspiração catecumenal é importante saber distinguir um verdadeiro cristão, finalidade única desse processo. O livro dos Atos dos Apóstolos apresenta-nos o primeiro retrato dos cristãos: “Eram perseverantes em ouvir os ensinamentos dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações. Em todos eles havia temor, por causa dos numerosos prodígios e sinais que os apóstolos realizavam. Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas”(At 2, 42-44). O relato bíblico revela-nos que o verdadeiro cristão é aquele que, sobretudo, vive sua fé em comunidade e cresce graças à catequese (“ensinamento dos apóstolos”). Desse modo, pode-se destacar um aspecto essencial do processo de iniciação à vida cristã: a catequese é realizada em conjunto pelos catequistas, pais, sacerdotes e toda comunidade de fé.
Visto esse aspecto, fundamento da iniciação cristã, podem-se resumir os tempos desse processo como descrito a seguir:
1º tempo: pré-catecumenato – corresponde ao período da primeira evangelização, de acolhimento do iniciante da comunidade cristã, da percepção de sua fé e do primeiro anúncio do Cristo (Querigma).
2º tempo: catecumenato – é o tempo mais longo de todo o processo, dedicado à catequese completa, que se preocupa com a formação do cristão bem como com a vivência em comunidade por meio dos ritos (celebrações).
3º tempo: purificação e iluminação – acontece preferencialmente no período quaresmal, a fim de proporcionar preparação próxima para os Sacramentos, por meio do aprofundamento das práticas quaresmais junto à comunidade.
4º tempo: mistagogia – acontece durante o tempo pascal, a fim de aprofundar os mistérios pascais, revestir-se do Cristo e partir para uma vida nova.
Cada tempo do processo catecumenal é enriquecido com a celebração de ritos que marcam a evolução do iniciante no caminho da catequese. É importante destacar que esses ritos, os quais fazem parte principalmente do tempo do catecumenato e da purificação e iluminação, fortalecem a união entre catequese e liturgia e criam um vínculo único entre os catecúmenos/catequizandos e a comunidade eclesial.
Assim, os catequistas têm a oportunidade de amadurecer a sua fé a partir da caminhada catecumenal de seus iniciantes, intensificando a vida de oração, a leitura e escuta da Palavra e comprometendo-se com a missão que Deus lhes confiou: formar verdadeiros discípulos e missionários de Jesus Cristo!
Deus, em sua infinita bondade, abençoe cada catequista que mergulhará nessa fonte de inspiração catecumenal. A Imaculada Conceição, Rainha da Evangelização, conceda a todos os povos a graça santificante de amar e seguir a pessoa de Jesus Cristo!
Adriana Amorim de Farias Leal
Catequista
Paróquia Nossa Senhora da Conceição
Catedral da Diocese de Campina Grande-PB
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