Frei Domingos nos deixou
Frei Domingos viveu a transição do Vaticano II com integridade e flexibilidade. São duas características que destaco na sua personalidade.
Nascido e, 1930 na cidade de Teixeira (PB), de família humilde, trabalhadora e muito católica. Teve um irmão bispo e outro frade franciscano.
Ainda na infância entrou para o Marianato de Goiana, pela mão do carmelita Frei Casanova.
Mostrou uma inteligência muito viva. Contou que vestiu uma batina antiga doada pelo então Padre Antônio Fragoso, seu irmão. Professou em 1941. Viajou então para São Paulo, onde os junioristas da Província de Pernambuco cursavam os estudos superiores.
Ao final do curso de filosofia, foi enviado para Roma, afim de estudar a teologia no Colégio Internacional Santo Alberto. Foi ordenado sacerdote em 1954. Ingressando a seguir no Pontifício Ateneu Angelicum, para graduar-se em filosofia.
Era antes de tudo um pensador, mais do que um estudioso. No último ano, debruçando-se sobre um tema abstrato de essência e ser, conjecturava longamente, com intervalos de distração com sua flauta. Muitas vezes saíamos juntos nas tardes de quintas-feiras, tempo de folga dos estudos. Assisti à defesa de sua tese. Revelou-se brilhante tanto na exposição como nas respostas à comissão examinadora.
Veio de férias para o Brasil e teve a delicadeza de trazer uma boneca para a irmã, lembrando que era o presente que ela mais desejava quando criança. Foi designado para ser professor de filosofia dos junioristas carmelitas de Portugal, na cidade de Fátima. O prior era frei Nuno Alves Correa. Como também diretor internacional da Ordem Terceira do Carmo, cuja sede passou a ser a Casa Beato Nuno. Quando se deu a transferência dos estudantes para Lisboa, regressou ao Brasil. Continuou sua docência de filosofia agora em São Paulo. Com a abertura da nova casa de filosofia em Teresópolis (RJ), mudou-se para lá. Moramos juntos três anos. Sua atenção foi sempre voltada para os pobres. Lá fundou o Círculo Operário Cristão. Novamente a casa de filosofia foi mudada para BH, no convento, enquanto se construía o prédio definitivo. Ocupou o cargo de regente de estudos. Passou a ensinar no Instituto Central de Filosofia e Teologia (ICFT). Pouco depois foi indicado como prior do convento e pároco da igreja do Carmo. Foi quando se iniciou a aplicação da renovação do Concílio Vaticano II. Demonstrou-se habilidoso e dedicado nesse trabalho, mas sempre perseverante. Por esta ocasião incardinou-se na Província de São Paulo. Durante o período do regime militar foi de grande firmeza na defesa dos direitos humanos, promovendo na comunidade do Carmo grandes sessões com a presença de D. Fragoso, D. Hélder Câmara e do advogado Sobral Pinto. Sua preferência era trabalhar com pequenos grupos e na zona periférica.
Por algum tempo esteve como administrador paroquial da basílica, conseguindo preservar o nosso patrimônio artístico, que se achava em perigo.
Em BH criou várias obras sociais, incentivando sempre a promoção humana. A ele se deve o grande impulso do ambulatório. Sabia arregimentar colaboradores dinâmicos, estava sempre disposto a apoiar as iniciativas que se lhe apresentassem.
Por ocasião do início do noviciado, no período de formação conjunta da Província de Santo Elias, de Pernambuco e do Comissariado do Paraná, integrou a equipe de formadores. Passando mais tarde para Curitiba, agora como formador dos junioristas da filosofia dos três núcleos carmelitas.
Foi eleito Conselheiro Geral da Ordem, ocupando-se com os carmelitas da América Latina, mas continuando a residir no Brasil, no período de 1989 a 1995. Recusou a reeleição para um segundo período. Por três mandatos foi Conselheiro da Província, acumulando ainda a função de ecônomo. Neste ofício fez um trabalho gigantesco de renovação e atualização. Foi acometido de um AVC. Recuperou-se sem sequelas e continuou no mesmo trabalho. Fundou o Instituto Tito Brandsma em São Paulo, órgão de estudos de espiritualidade.
Retornou à Província de Pernambuco, assumindo uma paróquia rural na diocese de Guarabira (PB). Não foi por um longo tempo. Já estava enfraquecido na sua saúde.
Por um certo tempo permaneceu na casa da irmã, sob os seus cuidados. Com a morte desta, transferiu-se para o convento do de Recife, onde se agravou sua doença. No ano atrasado tive ocasião de estar com ele, mas já estava em uma cadeira de rodas e não articulava as palavras, mas se mostrava lúcido em seu pensamento.
Veio a falecer em 28 de maio do presente ano. Fechou a sua última página da sua vida, muito fecunda de trabalhos em favor da Ordem e desta Província. Com São Paulo ele pôde dizer: ”Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2 Tm 4,7). Há pessoas que passam, mas a sua presença permanece.
Possa ele ouvir do Senhor: Muito bem, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel no pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu Senhor!” (Mt 25,21).
Frei Paulo Gollarte, OCarmo
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