Escrito por Pe. Gildásio Mendes
A realidade virtual já faz parte da sociedade brasileira. Para compreender o fenômeno virtual na vida dos nossos filhos e na sociedade é necessário ampliar a visão sobre a internet como novo habitat.
De acordo com o Ibope Media, em dezembro de 2012, o Brasil possuía cerca de 95 milhões de internautas, ocupando o 5º lugar em número de conexões no mundo. A pesquisa revela que 50,7 milhões de usuários acessam regularmente a internet; 38% acessam diariamente; 10% de quatro a seis vezes por semana; 21% de duas a três vezes por semana; 18% uma vez por semana. No total,87% dos internautas brasileiros acessam a internet semanalmente, fato que comprova que a realidade virtual faz parte do nosso dia a dia.
Nossos filhos vivem no mundo virtual e, sobretudo, entre as crianças e jovens surgem novos hábitos. Pais e professores se preocupam com os efeitos dessa conexão plena e questionam até que ponto o excesso de informação favorece a formação.
O Papa Bento XVI chegou a afirmar que estamos vivendo hoje no Continente Digital e que as transformações profundas no campo da comunicação e das novas tecnologias não são passageiras nem superficiais. Elas atingem os tecidos mais profundos das relações humanas e alteram as plataformas dos estratos sociais e culturais. As crianças e jovens fazem parte do que alguns chamam de geração conectada.
Nativos do continente digital
Nossos filhos vivem em rede e, nesta nova ambiência, acabam por mudar o modo como se relacionam. A nova ambiência virtual é um lugar onde as pessoas vivem e se sentem, de certa forma, em casa. Não é algo que olhamos como se estivesse fora de nós, mas pode ser considerado um lugar onde habitamos. Dentro desta nova ambiência, as crianças, os adolescentes e jovens se utilizam da internet e das novas tecnologias para estudar, pesquisar, conhecer as realidades ao seu redor, investir na vida profissional, no entretenimento e até mesmo como modo de se engajarem nas questões sociais, políticas e ambientais. Esta nova ambiência é lugar de relações humanas.
Mudança humana e relacional
Para pais e educadores é importante compreender que a verdadeira mudança que vemos hoje acontecer é humana, não tecnológica. Estamos presenciando uma revolução relacional, ou seja, uma mudança de valores, a criação de novos estilos de vida e a busca por experiências e valores percebidos, isto é, experiências que falam por si.
Como pais e educadores, quando lançamos nossos olhares para as redes sociais no universo midiático contemplamos, acima de tudo, a pessoa humana que comunica, e não há como não vislumbrar um ambiente para ser habitado também por nossos filhos. Além disso, não podemos deixar de considerar que esse novo ambiente está pleno de possibilidades para relacionamentos, educação, investimento humano e científico, solidariedade e compromisso com o outro e com a própria sociedade.
Educar na nova lógica digital
Do ponto de vista sociológico e psicológico, as redes sociais revelam aspectos novos de comportamentos e atitudes que devem ser aprofundados. A lógica digital quebra a linearidade do pensamento humano, modifica o conceito de tempo e espaço nas relações ao encurtar distâncias. Além da família e da escola, existe também a comunidade virtual. No mundo virtual, pais e filhos falam a partir de um mesmo lugar como autoridades. Isto não significa nivelamento, pois a hierarquização das relações é diferente, mas a comunicação em rede acontece entre iguais.
A interatividade é um modo de dialogar com as novas gerações. Para essas novas gerações, a interatividade aprendida nos videogames, nas redes sociais, assume uma importância vital, uma vez que interagir é dialogar, e dialogar nada mais é que conversar de igual para igual.
Uma nova ética
Neste contexto das realidades virtuais, presenciamos uma ruptura entre técnica e tecnologia. Não temos ainda clara a relação entre tecnologia virtual e cultura, entre redes sociais e compromisso ambiental, entre crescimento tecnológico e desenvolvimento humano. Dessa forma, o mundo virtual precisa elaborar princípios capazes de responder às rupturas que acontecem entre o indivíduo, a sociedade e a tecnologia. Exemplos disso são a exclusão digital; a precariedade de escolas que têm computadores, mas sem uma política educacional para uso de novas tecnologias; a violência nas redes; os crimes online; o desafio da privacidade e o problema da solidão na rede. Precisamos estar abertos e atentos para as oportunidades e desafios do mundo virtual. É importante conversar com os nossos filhos conectados sobre os valores percebidos como a família, a saúde, a espiritualidade e a religião, o compromisso com a pessoa humana e a sociedade e a relação da nossa vida com as novas tecnologias.
No futuro, veremos tecnologias e sistemas de redes mais sofisticados. A nanotecnologia principia a abertura de novos horizontes de possibilidades tecnológicas. O desafio para todos nós é saber dialogar e compreender as novas gerações que estão fazendo da internet e das redes sociais um novo habitat, mas que, ao mesmo tempo, continuam valorizando a família e o convívio na escola e nos encontros sociais.
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