No segundo domingo do mês de agosto comemoramos o Dia dos Pais. O santuário estava cheio de famílias, cantando e em oração na Missa das dez horas, transmitida pelas mídias sociais e pela rádio da cidade. Depois de proclamar o Evangelho, aproximei-me do povo e iniciei a pregação. Nesse dia, Jesus dizia: “Eu vim lançar fogo à Terra, e que tenho eu a desejar se ele já está aceso? Mas devo ser batizado num Batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra! Julgais que vim trazer paz à Terra? Não, digo-vos, mas separação. Pois de ora em diante haverá numa mesma casa cinco pessoas divididas, três contra duas, e duas contra três; estarão divididos: o pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra” (Lc 12, 49-53). Comecei dizendo que Jesus tinha vindo nos trazer o fogo do Espírito Santo não para destruir, mas transformar a nossa vida completamente.
Entusiasmado, ensinava que a paz era uma pessoa – Jesus, mesmo! Uma paz que não significava “bem-estar”, uma vida sem problemas, sem sofrimento, confortável, sem compromisso com os irmãos que tanto sofrem neste mundo, mas uma paz que nos coloca em movimento, lança-nos sempre para frente, para enxugarmos as lágrimas de quem chora e dar alento aos que vivem na desesperança.
Enquanto dizia essas palavras, olhei para o corredor central e vi um homem, caminhando em minha direção. Parecia uma pessoa simples, um peregrino. Eu pregava a Palavra e olhava para ele. Quando chegou perto de mim, ajoelhou-se, abriu os braços e pediu, derramando lágrimas: “Padre, por favor, dê-me uma bênção. Estou sofrendo muito!”. Nesse instante, parei a pregação. Todos ficaram em silêncio. Em uma das mãos, segurei o microfone; a outra coloquei sobre sua cabeça e, baixinho, fiz uma oração especial para ele, dando-lhe a bênção, fazendo o sinal da cruz em sua fronte. Ele se levantou e foi saindo devagar. Continuei a homilia. Meu coração parecia se queimar. Sentia um fogo ardendo dentro dele. A alegria era indescritível. Jesus, na pessoa daquele irmão sofredor, tinha vindo ao meu encontro na hora da meditação da Palavra, Ele que é a Palavra que se fez carne e veio morar entre nós.
Dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a pedido da Comissão Nacional de Presbíteros, escreveu um texto para estudos, reflexão e oração dos presbíteros do Brasil tratando do tema comunhão e missão. Chamou minha atenção quando ele diz “‘ A Palavra de Deus é viva’ (Hb 4, 12), ‘Nela e com ela, o discípulo recolhe sempre novidades’ (Mt 15, 32), ou seja, luzes para uma vida que se mostra repleta de sombras. Somos servos do Cristo que chama para, também nós, em meio a tudo que somos e vivemos, chamar, acolher, socorrer, proteger, fortalecer. O presbítero olha a Palavra para poder olhar a vida com os olhos e o coração de Cristo. O presbítero olha a vida para poder apresentar a Jesus as alegrias e dores de pessoas e dos povos. Nesse duplo movimento, a amizade com Jesus se fortalece e o presbítero se descobre capaz de repetir o vinde de Jesus, ainda que, dentro ou diante de si, se manifestem sombras, dores e inseguranças”¹.
Neste mês de setembro, quando se inicia uma nova estação, a primavera, e que é também dedicado à Bíblia Sagrada, vamos pedir a Jesus que faça brotar de nosso interior lindas flores espirituais para alegrar e perfumar este mundo tão necessitado de carinho, acolhida, pão, abraço e do seu amor.
¹. AMADO, Dom Joel Portella. Presbíteros, comunhão e missão. Brasília (DF), Edições CNBB, 2022, pp. 15. 19.
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