Creio ser uma pergunta pertinente para o momento em que vivemos, mas, não muito fácil de responder, pois os desafios são vários. Já estamos no “continente digital” há algum tempo e percebemos que “esse mundo” é fantástico. Fomos inseridos em um contexto digital que não imaginávamos ser possível.
Verificando o desenvolvimento da inteligência artificial e sua aplicação, algumas preocupações quanto ao seu limite se apresentaram, haja vista que toda essa tecnologia deveria estar a serviço do bem-estar da humanidade e do meio ambiente. Assim, com o propósito de refletir sobre o bom uso de todo esse avanço tecnológico, surgiu um movimento em 2020, denominado Apelo de Roma por uma Ética da IA (sendo que IA significa inteligência artificial).
Em 28 de fevereiro de 2020, em Roma, a Pontifícia Academia para a Vida, a Microsoft, a IBM, a FAO e o Ministério da Inovação (do governo italiano) foram os primeiros signatários do Apelo a uma Ética da IA e desenvolveram um documento para apoiar uma abordagem ética da inteligência artificial e promover um caminho de responsabilidade entre organizações, governos, instituições e setor privado com o objetivo de criar um futuro em que a inovação digital e o progresso tecnológico sirvam ao gênio e à criatividade humanos e não à sua gradual substituição.
Avançando nessa temática foi realizado outro evento, denominado Ética da IA: um compromisso abraâmico ao chamado de Roma, organizado na Cidade do Vaticano em 10 de janeiro de 2023, que reuniu os principais representantes religiosos e os principais players internacionais de tecnologia, como Microsoft e IBM.
Nesse evento, os representantes das três religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo) – o presidente da Academia Pontifícia para a Vida do Vaticano, Arcebispo Vincenzo Paglia, o rabino chefe Eliezer Simha Weisz, membro do Conselho do Rabinato Chefe de Israel, e o xeque Abdallah bin Bayyah, presidente do Fórum para a Paz de Abu Dhabi e do Conselho dos Emirados pela Sharia Fatwa – assinaram um documento para desenvolver uma inteligência artificial governada por uma ética que deve promover a utilização da tecnologia em benefício da humanidade e do ambiente.
EXORTAÇÃO DO PAPA FRANCISCO
“Estou grato à Pontifícia Academia para a Vida e à Fundação RenAIssance pelo compromisso em promover, por meio da Rome Call, uma ética partilhada relativamente aos grandes desafios no horizonte da inteligência artificial. Após a primeira assinatura, em 2020, o evento de hoje vê também o envolvimento das delegações judaica e islâmica, que observam a chamada inteligência artificial com um olhar inspirado nas palavras da Encíclica Fratelli Tutti. A vossa concórdia na promoção de uma cultura que coloca essa tecnologia a serviço do bem comum de todos e do cuidado da casa comum é exemplar para muitos outros. A fraternidade entre todos é a condição para que o desenvolvimento tecnológico esteja também a serviço da justiça e da paz em qualquer parte do mundo”.
SEIS PRINCÍPIOS PARA PROMOVER A ALGOR-ÉTICA
Os pontos qualificativos do documento são três: proteger a primazia do ser humano, educar os jovens nas tecnologias complexas e incentivar a dimensão jurídica para uma governança internacional. Esse documento também especifica seis princípios que são elementos fundamentais da boa inovação para promover a algor-ética (uso ético da inteligência artificial):
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dom Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida e da Fundação RenAIssance, argumentou: “Nós nos reunimos com nossos irmãos judeus e muçulmanos em um evento de grande importância para convocar o mundo a pensar e agir em nome da fraternidade e da paz, inclusive no campo da tecnologia”.
Também destacamos aqui as considerações do Frei Paolo Benanti, professor de Ética na Pontifícia Universidade Gregoriana e diretor da Fundação RenAIssance, que desenvolve pesquisas em inovação e ética das tecnologias: “Sabemos que as religiões desempenham um papel crucial na formação de sociedades onde o ser humano está no centro dos objetivos de desenvolvimento, tanto conceitual quanto praticamente. É por isso que acreditamos firmemente que o desenvolvimento da inteligência artificial deve proceder de uma perspectiva ética compartilhada, essencial para construir a solidariedade e a paz globais”.
O Papa Francisco encorajou os signatários do documento a prosseguirem nesse caminho, ressaltando que ficou feliz em saber que pretendem “envolver as outras grandes religiões do mundo e os homens e mulheres de boa vontade para que a algor-ética, ou seja, a reflexão ética sobre o uso de algoritmos, esteja cada vez mais presente não só no debate público, mas, também, no desenvolvimento de soluções técnicas”.
Está previsto para julho próximo, no Japão, o apoio e a adesão de outras grandes religiões mundiais ao Apelo de Roma por uma Ética da IA, visando a primazia do ser humano diante de todos esses avanços.
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