Naquele tempo, Jesus “(…) deixou de novo as fronteiras de Tiro e foi por Sidônia ao mar da Galileia, no meio do território da Decápole. Ora, apresentaram-lhe um surdo-mudo, rogando-lhe que lhe impusesse a mão. Jesus tomou-o à parte dentre o povo, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e tocou-lhe a língua com saliva. E levantou os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: ‘Éfeta!’, que quer dizer ‘Abre-te!’. No mesmo instante, os ouvidos se lhe abriram, a prisão da língua se lhe desfez e ele falava perfeitamente. Proibiu-lhes que o dissessem a alguém. Mas quanto mais lhes proibia, tanto mais o publicavam. E tanto mais se admiravam, dizendo: ‘Ele fez bem todas as coisas. Fez ouvirem os surdos e falarem os mudos!’” (Mc 7,31-37).
Essa passagem do Evangelho de São Marcos nos mostra a compaixão de Jesus pelo homem que não ouvia e não falava, compaixão traduzida em gestos de amor: chama-o para fora da multidão, põe o dedo nos seus ouvidos, toca sua língua e diz “abre-te”.
Somos chamados a acolher as pessoas que estão sofrendo, manifestando nosso carinho e atenção, crendo na Palavra de Deus, que é viva e eficaz.
Lembro-me de que, no ano passado, o reitor do Santuário Nossa Senhora Aparecida e Beato Donizetti, em Tambaú (SP), e eu fomos chamados para rezar para uma criança que nascera surda. A família já havia levado o menino a dois médicos. Fora submetido a muitos exames e o resultado tinha deixado todos tristes e sem esperança. Então, resolveram nos procurar e pedir oração e a bênção de Deus. Marcamos para uma quarta-feira depois da Missa da noite. Vieram cerca de sete pessoas. A mãe segurava o menino no colo. Tivemos uma ideia: vamos pegar o manto de Nossa Senhora Aparecida, tocar os ouvidos dele e pedir a cura, dizendo a mesma palavra de Jesus, “Éfeta”. Assim procedemos e a família voltou para casa. Naquela mesma semana, perceberam algo diferente. O menino começou a prestar atenção às conversas e a interagir com os pais. Antes, quando as pessoas conversavam, ficava parado, quieto. Nessa semana, virava a cabeça para quem falava, demonstrava ouvir alguma coisa. O médico que o acompanhava havia marcado um retorno para aqueles dias e eles o levaram. Depois dos exames, o médico, surpreso, perguntou: “Que aconteceu? Ele não tem nada nos ouvidos. Estão perfeitos. A criança está escutando normalmente, sem problemas”. No dia seguinte, vieram ao santuário para agradecer a graça alcançada.
O Papa Francisco, no Angelus do dia 5 de setembro de 2021, meditando o Evangelho de Marcos, disse: “A cura do surdo-mudo tem um valor simbólico particular. Aquele homem não conseguia falar porque não podia ouvir. Todos nós temos ouvidos, mas muitas vezes não conseguimos ouvir. Por quê? Existe a surdez interior e ela é pior do que a física, pois é a surdez do coração. Na nossa pressa, com mil coisas para dizer e fazer, não encontramos tempo para parar e ouvir aqueles que falam conosco. Corremos o risco de nos tornarmos impermeáveis a tudo e a não dar lugar àqueles que precisam ser ouvidos. Pensemos na vida em família: quantas vezes falamos sem ouvir primeiro, repetindo as próprias ladainhas, sempre as mesmas! A cura do coração começa com a escuta. Ouvir. E isso cura o coração”.
Deixemos Jesus tocar nossos ouvidos interiores. Estejamos abertos à sua Palavra para vencermos a impaciência, a pressa e a indiferença. Que o Senhor nos cure como fez com aquele homem há quase 2 mil anos e com o menino que ouviu dos lábios dos padres, em 2021, “Éfeta”, abre-te!
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