Sabemos que “as imagens, os símbolos e os mitos não são criações irresponsáveis da psique; elas respondem a uma necessidade e preenchem uma função: revelar as mais secretas modalidades do ser” [1]. Devemos entender que “o símbolo nasce e se desenvolve através do contato do homem com o ambiente […] natural e cultural” [2]. Os símbolos principalmente os ligados a religiosidade devem ser vistos dentro da ótica da liturgia cristã que se apresenta como um conjunto de sinais e de símbolos, que as ciências humanas podem estudar em diversos níveis, mas sobre os quais só poderemos ter uma compreensão plena e uma experiência autêntica dentro de um contexto de fé e de pertença à Igreja[3].
Os símbolos trazem uma lógica que pode ser traduzida, mesmo se tratando de experiências transcendentes, pois transformam essas realidades em racionais. Por meio da Tradição da Igreja, os testemunhos de fé se tornaram tratados ou mesmo compêndios da compreensão e de relação com os objetos que representam um contato com Deus, visto que: “O homem histórico tem a tendência inata a construir para si símbolos que lhe recordem um acontecimento sagrado ou uma experiência de Deus no passado, ou então símbolos que deveriam lembrar-lhe a presença de Deus, um dom seu ou missão conferida por ele”[4].
Para interpretação das simples manifestações de fé, contamos com o Sensus Fidei, que pela moção do Espírito Santo, pode aprofundar o sentido do significado dos símbolos, dos gestos e das ações que ocorrem na piedade popular. No catolicismo popular, o seguimento se dá pela adesão e interpretação que são expressas por símbolos e estilo linguístico de cada cultura. Por isso a necessidade de métodos próprios para cada fenômeno e cada expressão cultural[5].
Por isso os símbolos assumem funções pedagógicas quando induzem a um seguimento do Evangelho, visto que nele não temos conteúdo dá fé, mas nos remete ao seguimento de Cristo. Ao mesmo tempo função mistagógica ao transportar os fiéis de uma materialidade ao mundo transcendente por meio da fé[6]. Visto que: “a fé, e, por conseguinte, a Igreja, nascem e crescem em religiosidade culturalmente diversificada nos distintos povos[7]”. As expressões religiosas demonstram uma adesão fiel e participava do fiel ao corpo eclesial.
Os símbolos são apreendidos no cotidiano, mas não podemos nos perder no já estável, devemos nos aprofundar no fenômeno, no significado e na experiência[8]. “O cotidiano é o nosso cotidiano. O simbólico é o nosso simbólico. Somos nós os encarregados dessa apreensão. Isto é, da apreensão do simbólico no cotidiano”[9].
E mais, ao saber que os símbolos nos possibilitam uma comunicação religiosa, isto é, não trata de limitar a presença de Deus de forma real, mas sim remetem a um encontro, uma mediação do povo com seu Deus. Tendo uma significação, o símbolo se torna eficaz por permitir vivenciar o mistério, tendo noção de seguimento a um projeto, no caso do Escapulário do Carmo, do Reino de Amor.
[1] Cf. ELIADE, Mircea. Imagens e Símbolos. Ensaios sobre o simbolismo mágico-religioso. São Paulo: Martins Fontes, 1991, pp. 8-9.
[2] BERNARD, Ch. A. Símbolos Espirituais. In. FIORES, Stefano de; GOFFI, Tullo (Orgs.). Dicionário de Espiritualidade, São Paulo: Paulinas, 1989, p.1068.
[3] Cf. SARTORE, D. Sinal/Símbolo, Ibdem. p. 1142.
[4] HÄRING, B. Sentido de Deus. Ibdem, p. 1048.
[5] Cf. ESPÍN, Orlando O. .A fé do povo: reflexões teológicas sobre o catolicismo popular. São Paulo: Paulinas, 2000, p.122.
[6] Cf. BOGAZ, Antonio Sagrado; VIEIRA, Tarcísio Grégorio. Sinais Mistagógicos. Instrumentos de Evangelização litúrgica. São Paulo: Paulus, 2001.
[7] II CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO. Conclusões de Medellín. 3° ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1977, p.70
[8] Cf. MARASCHIN, Jaci C. O simbólico e o cotidiano. In. Religiosidade popular e misticismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984 p.126.
[9] MARASCHIN, Jaci C. O simbólico e o cotidiano, p. 127.
Trecho do Artigo “Piedade Popular” escrito por Frei Renê Vilela, O.Carm
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