A Missa terminou às dez horas. Muitos peregrinos se aproximaram de mim para pedirem uma bênção especial, como é tradição aqui no Santuário Nossa Senhora Aparecida e Beato Donizetti, em Tambaú (SP). Enquanto os fiéis passavam e eram aspergidos com água benta, observava, no último lugar da fila, um homem magro, alto, segurando nas mãos uma sacola. Quando chegou sua vez, ele me disse: “Padre, além da bênção precisaria conversar com você sobre uma graça que eu alcancei”.
Sentamo-nos ali, nos bancos da igreja, e ele começou a falar: “Meu nome é Sérgio Natal. Sou aqui da região, de São Simão (SP). Desde criança sou apaixonado por animais, cavalos, bois e rodeios. Fui crescendo nesse ambiente, treinando todos os dias, até me tornar um peão profissional. Tenho também alguns touros que cuido para as competições. No ano passado, tudo ficou parado por causa da pandemia, mas, com fé, estamos caminhando. Estou aqui porque recebi um grande milagre na minha vida por intercessão de Nossa Senhora Aparecida e do Beato Donizetti. Num dia, de manhã, estava no sítio cuidando dos bois quando, de repente, dois deles começaram a brigar. Como tenho experiência em lidar com esse tipo de situação fui separá-los para que as coisas se acalmassem. Sem que eu esperasse, um deles me atacou, jogando-me para o alto. Naquele instante, caí ao chão, bati a cabeça e quase morri. Fui socorrido pela minha família e iniciei um calvário cheio de dores e incertezas. Ainda no hospital, os médicos disseram que, dificilmente, voltaria a andar. Todo o meu lado direito estava paralisado. Tive alta, voltei para casa e pensei: ‘Minha vida acabou. Não vou poder mais andar, trabalhar e sustentar minha família’. Foi quando, olhando no meu quarto, vi a imagem da Mãe Aparecida e a foto do Padre Donizetti. Comecei a chorar e a rezar todos os dias para que Deus ouvisse minhas preces e me desse uma nova oportunidade para continuar buscando a realização dos meus sonhos. Dias depois de suplicar a ajuda da Virgem Maria e de seu servo Donizetti, apareceu um médico que veio renovar a minha esperança. O trauma que estava me deixando na cama poderia ser no cérebro. Fiz exames e foi constatado um coágulo provocado pelo ataque do boi. Seria necessária uma cirurgia, mas de alto risco. Eu poderia melhorar ou ter mais complicações ainda. Não tive dúvidas: clamei com mais força pela ajuda de Nossa Senhora e do beato.
A cirurgia foi um sucesso! Fui me recuperando lentamente e, graças a Deus, estou completamente reabilitado.
Vim à Missa agradecer e trazer um presente para a Senhora Aparecida e o Padre Donizetti”.
Então, o homem tirou da sacola uma camisa preta cheia de detalhes bonitos e um cinto com uma linda fivela dourada. Segurei suas mãos e, olhando nos seus olhos, vi que estava chorando. Ele falou: “Padre Agnaldo, eu participei de muitas competições de rodeiro, mas fui campeão somente uma vez, em Avaré (SP). Esta camisa e este cinto com a fivela são lembranças preciosas da minha vitória na arena. Como gratidão por essa bênção tão grande que recebi, trouxe os prêmios daquele campeonato para serem colocados na sala dos milagres”.
Tal gesto de carinho e devoção daquele simples peão de rodeio tocou muito meu coração. Fez-me lembrar das palavras do Papa Francisco em Aparecida (SP), por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, em 2013, ainda tão atuais: “Todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma mãe. Deus sempre surpreende, como vinho novo, sempre nos reserva o melhor. Ele pede que nos surpreendamos pelo seu amor”.
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