Falamos em “amar a Deus sobre todas as coisas”, mas será que nossa apresentação de Deus desperta mesmo esse amor? Quando eu era criança muitas vezes, visitando certos ambientes escolares, via um quadrinho na parede com um olho bem grande e a frase : “Deus está te vendo!” Então eu lembrava que essa frase era dita com freqüência quando alguém fazia alguma coisa errada, como uma espécie de advertência sobre um possível castigo. Sentia vontade de perguntar por que não se comunicava que esse Deus está nos vendo especialmente quando fazemos o que Ele gosta, quando mostramos que o amamos fazendo o bem aos irmãos que Ele nos deu.
Apresentamos uma imagem de Deus não apenas quando estamos explicando algo sobre o nosso Pai Criador. Esse “modo de sentir Deus” transparece em todos os aspectos da nossa espiritualidade. Ser catequista é comunicar como é o Deus que anima nossa vida, como nos relacionamos com Ele. Há quem cultive uma imagem de Deus juiz, que nos vigia, achando que assim as pessoas terão medo de fazer o que é errado. Aparece muito aí a expressão “temor a Deus”. Mas temor aí não deveria ser visto como medo, deveria ser respeito e reverência por algo maravilhoso, por uma amor que nunca nos abandona.
Os mandamentos da Lei de Deus não são “decretos em estilo policial” feitos só para punir transgressores. Eles são na verdade uma espécie de “manual do fabricante de gente”, instruções do Criador para que a humanidade funcione melhor, apresentados com o profundo desejo de nos proteger de escolhas que vão nos prejudicar. Uma atividade interessante poderia ser proposta aos catequizandos: vamos imaginar como seria um planeta onde os mandamentos e outras orientações de Deus fossem sempre cumpridos. Poderíamos inventar um nome para esse planeta, que combinasse com o estilo de vida que lá se desenvolve. Poderíamos criar um jornal com as notícias que comunicassem o que aí acontece. E depois poderíamos fazer uma pergunta muito importante: o que vamos fazer para ajudar nossa sociedade a ficar parecida com esse planeta ideal, desejado por Deus?
Uma frase importante do Deuteronômio mostra como Deus deseja que façamos as escolhas certas: Ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois a vida, para que vivas, tu e teus descendentes, amando ao Senhor, teu Deus, obedecendo à sua voz e apegando-te a ele pois ele é tua vida… (Dt 30,19-20). Ou seja: Deus torce por nós, quer nos ver vitoriosos. È verdade que a Bíblia traz ameaças de castigos, mas aí também quem age é um Deus que nos ama e quer nos dar motivos para não nos deixarmos seduzir pelo mal. Isso aparece bem no livro de Jonas. O profeta é enviado para anunciar tragédias a um povo que se afastou de Deus, mas o povo se converte e as tragédias não acontecem. Jonas não entende e fica resmungando, se sentindo derrotado porque anunciou uma coisa e aconteceu outra. Mas Deus no final deixa claro que a sua intenção era salvar, não condenar, porque todos são seus filhos amados. Como um bom Pai, só anuncia um castigo para proteger seus filhos de um desastre maior.
Isso deve transparecer quando preparamos os catequizando para o sacramento da Confissão. Não se trata de uma humilhação, não somos réus colocados diante de um tribunal rigoroso. Somo filhos pródigos que querem voltar para casa e vão ao encontro de um Pai que quer festejar com alegria nosso arrependimento e nossa vontade de melhorar. Mudei muito meu modo de preparar catequizandos para esse sacramento depois de ter sido eu mesma preparada por um padre que destacou o amor incondicional que Deus tem por nós e que me convidou a ver a confissão como um ato de confiança nessa fonte de graça que sempre nos quer ver melhores e nunca desiste de nós. Depois disso, lembrando a festa que o pai quis que marcasse a volta do filho pródigo, passamos a comemorar a confissão das crianças com um lanche gostoso e alegre. A garotada se sentiu mais ligada ao amor de Deus e mais confiante para escolher o bem, sabendo que poderia contar sempre com esse amoroso acompanhamento de quem nos criou e nos valoriza.
É bem mais fácil e gratificante aderir a um Deus que só quer o nosso bem. Alguém pode achar que essa confiança no amor de Deus poderia nos deixar irresponsáveis, sem um verdadeiro empenho de conversão. Nossos pecados têm consequências, realmente. Quando fazemos o errado criamos um mundo pior e é nesse mundo que temos que viver. Mas é justamente isso que Deus quer evitar quando nos dá seus mandamentos. E, sabendo o quanto somos amados, teremos mais vontade de merecer esse amor…
Por Therezinha Mota Lima da Cruz, via Catequese do Brasil
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