Jesus quis ser batizado por João no rio Jordão. Ele não precisava da misericórdia, mas se colocou na condição humana de pedir e dar misericórdia a todos os que aceitam o novo batismo por Ele instituído. Trata-se de nos tornar filhos adotivos. Não merecemos tamanha concessão e graça. O Espírito Santo nos dá a nova condição de sermos tratados pelo Pai de Jesus como verdadeiros filhos, se o Pai vir nossa aparência com Jesus. Isto se dá com o amor de Deus infundido em nós e nosso seguimento ao Filho, imitando-o em tudo. Assim realizamos somente o bem, com a força do Espírito Santo.
O batismo instituído pelo Filho de Deus é misericordioso, pois, não o merecíamos, mas Ele se coloca em nosso lugar para o merecermos diante de seu e agora também nosso Pai! De ora em diante podemos andar de cabeça erguida e não mais como escravos de nossos limites. Temos a força da graça divina para superarmos os limites dos instintos com o dom especial do amor misericordioso do Senhor.
Desta forma, também somos contemplados pelo profeta que anuncia o que deveria acontecer e se efetivou com Jesus: “Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra… eu te formei e te constitui como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Isaías 42, 4.6.7). Quem é transformado por Deus pelo batismo, se for coerente no seguimento ao Filho, realiza o que Ele veio fazer. Não desiste de lutar por um mundo mais justo e fraterno. Vive com altivez de caráter. Dá de si por causas que promovem a dignidade da vida e da pessoa humana. Desenvolve a família como valor fundamental da sociedade. Ajuda a política ser um real serviço à sociedade, superando o mau uso do voto, a corrupção e a desonestidade.
Quem vive a caminhada nova de batizado em nome da Trindade, não se deixa conspurcar com o lamaçal da injustiça, da mentira e da deslealdade. Supera a tentação da acomodação para se disponibilizar em colaborar com a inclusão social dos mais frágeis. Não se cansa de fazer o bem, mesmo nas incompreensões e oposições. Sabe ter compaixão do sofrimento alheio, como fez o Divino Mestre. Dessa forma, é convicto do que Pedro apresenta: “Ele – Deus – aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (Atos 10,35). De fato, a pessoa que assume seu batismo, tem convicção de que trabalha em função de amar a Deus, mesmo sem ser valorizada por quem é até beneficiado e não reconhece essa ação.
A fé nos leva a seguir a Jesus não porque Ele seja um líder religioso humano, e sim por sua condição de Filho de Deus, como lembra Lucas na ocasião do batismo de Jesus: “E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu benquerer” (Lucas 3,22). Se Ele tem a natureza divina, estamos no caminho certo para alcançar o que nos promete. Por isso, viver seguindo-O e realizando o que Ele faz e nos ensina é fundamental. Desta forma, usufruímos de sua misericórdia infinita.
Por Dom José Alberto Moura – Arcebispo de Montes Claros (MG)
Comments0