Uma família de Londres esteve na sede da Comunidade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP) fazendo uma visita. O casal Sean Mansfield (britânico) e Rebeca Ribeiro Mansfield (brasileira), vieram passar as férias no Brasil com seus filhos Catherine e Antonhy Mansfield.
O casal veio passar um dia de espiritualidade e reavivamento de sua fé na Canção Nova. Durante um bate-papo com o casal foi possível destacar as diferenças entre a forma como vivenciamos o catolicismo no Brasil e na Europa.
Rebeca contou que estar no Brasil e realizar uma peregrinação pelo Santuário de Nossa Senhora Aparecida, localizado em Aparecida -SP e estar na sede da Canção Nova é uma forma de poder resgatar e alimentar sua fé para retornar à Londres.
Para Rebeca Deus preparou uma grande surpresa por ter colocado Sean em seu caminho, pois quando se conheceram ela estava prestes à voltar ao Brasil. O casal busca viver o catolicismo, apesar das dificuldade em professar a fé em um país em que a religião católica não é tão forte.
Canção Nova: Quando decidiu ir para Londres e como conheceu seu esposo?
Rebeca: Fui para Londres para estudar inglês, porque desejava aprender a língua para poder voltar ao Brasil e conseguir um emprego melhor.
Na época, Sean estava no México trabalhando como missionário, servindo perto do Santuário de Guadalupe. Nós tínhamos uma amiga em comum, que é a Marta. Um dia Sean conversando com Marta, ele reclamou que estava difícil encontrar uma mulher para casar, pois faziam 10 anos que estava rezando pedindo a Deus por uma esposa e nada acontecia. Neste momento Marta falou para ele que conhecia uma brasileira que morava em Londres e talvez poderia dar certo, nos apresentou pelo facebook.
Nós começamos a conversar e um mês depois ele me escreveu dizendo que estava voltando para Londres, fiquei com um frio na barriga, porque estava em um período de discernimento da minha vocação. Então eu rezei, pois sabia que o retorno de Sean à Londres não seria por acaso. Deus foi preparando tudo de uma forma muito bonita, porque foi algo inesperado, estava preparando meu coração para voltar ao Brasil e retomar a minha rotina de trabalho. Acabamos nos conhecendo, em dois meses ficamos noivos, após sete meses casamos e juntos começamos a construir uma família.
Canção Nova: Como é ser católica fora do seu país de origem, em que a maioria das pessoas são católicas? Como é testemunhar o Evangelho?
Rebeca: Sinto muita falta do Brasil, por causa disso, falta de fazer parte de uma paróquia, que tenha mais missas, que a comunidade seja mais atuante e que as pessoas se ajudem. Como lá não é um país católico acaba sendo muito difícil encontrar missas diárias e quando vamos a missa é algo muito diferente do que estou acostumada no Brasil, porque é uma missa mais silenciosa, rápida, com cantos mais tradicionais e é raro encontrar jovens dentro da Igreja.
Existem algumas comunidades, mas é preciso se deslocar. Por exemplo existe um grupo de oração no centro de Londres que se encontra uma vez por semana e você não vai encontrar isso ao lado da sua casa. Se torna muito mais difícil e é um desafio diário, especialmente, depois que as crianças nasceram (tenho dois filhos e eles nasceram exatamente com um ano de diferença) ficou ainda mais difícil ir, porque às vezes a comunidade não recebe as crianças como deveriam, eu nem culpo eles, mas as vezes eles querem ir lá para rezar e ter o silêncio e as crianças não fazem. Muitas vezes saí da Igreja aos prantos e o Sean tentava me ajudar dizendo para não levar para o lado pessoal. Pois, pensa que de repente elas estão há 60 anos dentro da Igreja e desejam o silêncio e as crianças vão lá e perturbam.
É difícil, por isso nesta nossa peregrinação de férias no Brasil, nós passamos por Aparecida (SP) e ficamos dois dias na Canção Nova. É um momento muito importante para eu beber um pouco desta fonte que eu sinto tanta falta. É uma graça para a nossa família, porque eu me fortaleço aqui para voltar para as dificuldades de lá.
Canção Nova: Como seu esposo, Sean, também católico, vê a sua fé e a sua vontade de viver um bom matrimônio e educar os filhos nas doutrinas da Igreja Católica?
Rebeca: Digo que Deus foi muito bom comigo, porque ele é da Renovação Carismática também e sempre ajudou um grupo de oração de jovens, de Londres, onde era servo. Ele ficou fascinado com a Eliana Ribeiro, fui explicar para ele quem é a Eliana, aí ele me falou: “eu sabia que ela era bem conhecida porque quando ela canta sentimos o fervor, o louvor e a música toca o nosso coração”. Eu não poderia pedir alguém melhor para Deus, porque Sean gosta, mas como ele cresceu neste meio tradicional de Londres ele também se adapta bem ao meio tradicional e tem menos dificuldade, ele também tenta me ajudar. Isso que é o bom do casal, um ajuda o outro, quando um está caindo o outro vai lá e levanta, mas ele vê o quanto é importante para mim vir ao Brasil e ele apóia. Estamos felizes por vir e ter a oportunidade de cantar e rezar as músicas que eu amo e rever os amigos.
Canção Nova: Em Londres, vocês tem contato com outros casais católicos, grupos de oração ou encontros religiosos que possam te ajudar a vivenciar sua fé?
Rebeca: Lá em Londres existe a Capelania Católica Nossa Senhora Aparecida, é uma bênção enorme na vida dos brasileiros que moram lá porque temos esta espiritualidade. Temos também o Hosana Londres e o Aviva Londres e os missionários do Brasil vão para lá nesses dias de encontro. Nós temos dois grandes encontros em todo o ano, então ajuda a comunidade também, ajuda bastante. Já tivemos a presença de Dunga, Emanuel e Ironi Spudaro, que foram uma bênção para nós lá. Hoje eu moro com a minha família um pouco mais distante de onde tem as missas brasileiras, então não conseguimos ir com muita frequência. Tentamos estar perto de amigos que são católicos e que vivem da mesma forma que a gente para se ajudar. O Sean, tem vários amigos e alguns deles casados com brasileiras também e nós vamos nos ajudando no dia a dia, as vezes, por exemplo eles vem passar o final de semana na nossa casa ou vamos viajar com eles e sempre temos um momento de oração juntos.
Canção Nova: Como vencer estes desafios na educação dos filhos, em um país Europeu, onde as pessoas não querem abraçar o catolicismo?
Rebeca: Basicamente mudamos de casa por causa da questão de escola, porque lá existe a ideologia de gênero e eu quero educar as minhas crianças na fé. Muitas pessoas acham que nós, católicos, somos preconceituosos e homofóbicos, mas não é bem assim, na verdade toda a relação sexual fora do casamento para nós é condenável e quero passar estes valores para as minhas crianças. Não quero que um professor venha e fale que eles podem ter relação sexual aos 10 ou 12 anos, que podem ter um aborto aos 10 ou 12 anos sem o consentimento dos pais, porque é o que acontece, não quero que eles cheguem e falem que é normal o homem dormir com homem e mulher com mulher. Eu quero que os meus filhos amem e respeitem a todos, mas só que vivam de acordo com aquilo que acreditamos que não é o mesmo que o mundo prega.
Meu marido e eu conversamos muito sobre isso e resolvemos sair de Londres e morar em uma cidade vizinha, ele continua trabalhando em Londres. Nesta cidade nos mudamos para perto de uma escola católica que é bem conceituada, conversamos com o padre antes e ele assegurou que podemos ficar tranquilos e que as crianças vão receber uma boa educação, mas que a educação sexual vai ficar por nossa conta.
No mundo ideal não enviaríamos as crianças para a escola, pois o sonho do meu marido é fazer o que nós chamamos de “homeschooling” que é ensinar as crianças em casa. Até cheguei a comprar alguns livros, porque teria que ficar responsável pela educação das crianças, mas na minha pequenez, não me sinto segura porque toda a minha educação foi no Brasil e tudo o que eles ensinam vai ser novidade para mim.
A Catherine vai fazer quatro anos, no ano que vem ela começa a escola, estamos em um período de discernimento para vermos se vamos enviar ela para a escola ou não. Pelo menos assim nos dá paz no coração de saber que o padre da paróquia está dentro da escola e apóia a nossa decisão e aquilo que acreditamos.
Canção Nova: Como você percebe a questão dos refugiados?
Rebeca: A Europa está muito fechada. É triste de ver isto, tantos anos nós acolhemos os europeus e hoje eles não querem acolher ninguém. Mas o que me deixa muito feliz é ver que o Papa solicitou que cada paróquia européia receba uma família refugiada, porque é uma forma concreta de ajudar estas pessoas.
Acontecem coisas que nós nem imaginamos, porque o que vemos no noticiário não é nada comparado ao que acontece. Algumas pessoas falam que a Europa se fecha também pelo medo de terroristas se infiltrarem no meio destas pessoas que estão sofrendo, são de bem e precisam de um lar. A Europa tem conversado bastante sobre isso e é algo que precisa ser resolvido ainda mais depois da morte daquele menino* que tocou o coração de todo o mundo, tenho certeza que muitas pessoas vão abrindo o coração para esta realidade.
*A entrevistada se refere à criança morta na praia, cuja foto repercutiu em todo o mundo.
Em Londres, por exemplo, é uma grande mistura de pessoas e é muito raro encontrar um britânico no país, porque são pessoas de todo o mundo e isso tem acontecido muito ao longo dos últimos anos, são muitos emigrantes ali, são pessoas do leste europeu, de países mais pobres que tentam ali ter uma vida melhor. Existem partidos políticos na Inglaterra que são muito firmes contra a imigração então é preciso mudar a mentalidade, por caridade e nós seguimos em oração por estes imigrantes porque é muito sofrimento ver a perseguição que eles sofrem.
A perseguição aos cristãos nos países islâmicos é muito triste e muitos muçulmanos são contra isso também porque nós temos uma comunidade muçulmana muito grande na Inglaterra e nós vemos tantas pessoas que são boas de coração, querem ajudar e são contra a violência que acontece nestes países.
Alessandra Borges,
Canção Nova
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