Quando paramos para analisar a sociedade, podemos deparar com um contexto cada vez mais desafiador. Muitas são as teses e muitos são os estudiosos que buscam entender as relações e comportamentos que nós, seres humanos, desenvolvemos ao viver em sociedade. É quase impossível definir os modos de viver somente por uma via.
O homem moderno é caracterizado por uma multiplicidade que se manifesta em diversos âmbitos: social, religioso, econômico, político etc. Não obstante, o filósofo Gilles Lipovetsky nos traz esse paradoxo: “Na sociedade da diferença, porém, a indiferença não teme ser ostensiva. Exibe os seus signos por todos os lados”[1]. Isso significa que, apesar de ser múltipla, nossa sociedade tem um traço de indiferença.
O que é a indiferença? Ela é definida como um sentimento de apatia diante de qualquer estímulo ou um descaso, uma ausência de interesse por algo. Lipovetsky também nos ajuda a entendermos o que significa esse sentimento quando afirma que “A indiferença não se identifica com a ausência de motivação, mas se identifica, sim, com o pouco de motivação, com a anemia emocional, com a desestabilização dos comportamentos e dos julgamentos hoje flutuantes. O homem indiferente não se apega a nada, não tem certeza absoluta, adapta-se a tudo, suas opiniões são suscetíveis de modificações rápidas”[2]. Pelo fato de viver num mundo com constantes mudanças, o homem no fundo pode se sentir com medo do desconhecido e do outro.
Contrapondo-se a esse sentimento, Papa Francisco nos convida a superarmos a indiferença por meio da cultura do encontro. Numa de suas homilias na Capela de Santa Marta, ele afirmou: “Estamos acostumados com a cultura da indiferença e temos que trabalhar e pedir a graça de fazer a cultura do encontro, do encontro fecundo que restitui a todas as pessoas a própria dignidade de filhos de Deus”[3]. Sendo assim, o papel do cristão em nossa sociedade é promover o encontro, superando todas as fronteiras. É preciso ser capaz e estar aberto a esta possibilidade. Isso exige esforço e conversão.
Nestes tempos de pandemia, não faltaram exemplos de generosidade e empatia humana.
Basta pensar em quantos artistas se mobilizaram para conseguir doações a comunidades carentes. Isso sem contar as pessoas do cotidiano, que fizeram gestos pequenos e concretos de solidariedade com campanhas de arrecadação e socorro aos mais necessitados.
Convém destacar que ainda estamos colhendo mazelas da pandemia: desemprego, alta dos preços, fome e miséria. Neste tempo de Advento, em que estamos na espera do Senhor, também somos chamados a ir ao encontro daqueles que necessitam. Que tal superar essa indiferença com o desapego de algum bem material, com uma doação, com um gesto de caridade? Agindo dessa maneira, podemos cada vez mais construir uma sociedade mais justa e igualitária.
Referências:
[1] LIPOVETSKY, G. A sociedade da decepção. Barueri, SP: Editora Manole, 2007, p. 20.
[2] LIPOVETSKY, G. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. Barueri, SP: Editora Manole, 2005. p. 26.
[3] https://arquisp.org.br/noticias/papa-vencer-a-indiferenca-e-construir-a-cultura-do-encontro
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