“Vocação e missão da Igreja:
Responder ao apelo do Senhor
De sermos no mundo a certeza
Da partilha, milagre do amor.”
(Hino da Campanha da Fraternidade 2023)
Anualmente, a Igreja no Brasil lança a Campanha da Fraternidade (CF). Durante o período quaresmal, as comunidades são convidadas a refletir, rezar e comprometer-se com uma realidade específica do nosso país.
Neste ano de 2023 nos é proposto o tema “Fraternidade e fome”. A partir do eixo norteador da reflexão é apresentado o lema, com inspiração bíblica do Evangelho de Mateus, “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).
A temática da fome é uma constante nos evangelhos. O Cristo, em seus ensinamentos, sempre esteve atento às necessidades mais urgentes do seu povo. Recordemos que, no Sermão da Montanha, Ele assinala que são bem-aventurados aqueles que dão de comer a quem tem fome – “Tive fome e me destes de comer” (Mt 25,35) –, colocando-se como um dos sofredores – “Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores do Reino, foi a mim que fizestes” (Mt 25,40).
A temática da partilha do pão para saciar a fome da população aparece em episódios marcantes da multiplicação dos pães narrados por Mateus e Marcos (cf. Mt 14,13-21; 15,32-39; Mc 6,30-44; 8,1-10). Jesus tem compaixão daquele povo que padece de fome e, a partir do que é oferecido, realiza o milagre da multiplicação. O pouco que é oferecido, num gesto de generosidade, é mais do que suficiente para saciar a fome de todos, sem que falte a nenhum deles.
O Mestre de Nazaré preocupa-se com o ensinamento da sua Palavra, mas não descuida das necessidades materiais do seu povo. Não despede de mãos vazias aqueles que estiveram ali, alimenta-os com suas palavras, nutre seus seu corações, restitui-lhes a vida e sacia a sua fome, dando-lhes a dignidade para que voltem a suas casas em plenitude.
O convite feito pelo Cristo, sempre nos ensinando a viver, é que nos comprometamos com o anúncio do seu Reino, mas que o façamos com ações concretas, assumindo as suas causas.
No ano de 2022, estudos apontaram que mais da metade (58,7%) da população brasileira convivia com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave. Em contrapartida, no mesmo ano, o Brasil foi o quarto maior produtor agrícola. Isso nos leva a perceber que não nos faltam alimentos para saciar a fome da população; ao que parece, falta o comprometimento com a partilha e a promoção da dignidade humana.
Nesse mesmo cenário o Brasil é o lar da maior população de cristãos na América do Sul, assim como do maior número de católicos do mundo, sendo um dos países com o maior número de cristãos. Esses dados, tanto da produção de alimentos como o do quantitativo de cristãos no Brasil, levantam a reflexão sobre as ações que temos assumido como vivência da nossa humanidade e fé.
Em nossos dias, urge a necessidade de aprofundarmos a reflexão sobre essa temática. O pão que comungamos na Missa, verdadeiramente corpo do Senhor, deve ser para cada um de nós um compromisso de estendermos aquela mesa ao lar de cada ser humano. Ao comungarmos o corpo do Senhor, alimentados por sua presença, somos convidados a fazer o mesmo que Ele fez – entregarmos a vida em favor de todos, na promoção dela em sua plenitude.
Que nesta Quaresma, tempo santo de conversão e reconciliação, possamos, inspirados pelo testemunho de Cristo e impulsionados pela Campanha da Fraternidade, trabalhar para que não falte o pão aos filhos de Deus, nossos irmãos na fé e na humanidade.
Rezemos ao Senhor: “Mestre, que sempre quisestes ficar muito perto de nós, deixando o pão como memorial da tua presença, pedimos a vós em prece, ajudai-nos a trabalhar por uma sociedade na qual não falte o pão de cada dia para nenhum dos vossos filhos, nossos irmãos. Que na mesa o pão seja fartura, mas que não nos falte o alimento do diálogo, da partilha, da alegria, da justiça e, sobretudo, da esperança. Ajudai-nos a estender ao mundo a partilha do pão que realizamos a cada celebração eucarística e o façamos como memorial da vossa entrega e amor. Arrancai de nossos corações a mesquinhez que nos impede de partilhar e servir. Abri as nossas mãos já atrofiadas de tanto reter e devolvei-nos a alegria de partilhar. Mestre, ensinai-nos a cingir os nossos corações com a toalha do serviço e a vosso exemplo entregarmos a nossa com amor, até as últimas consequências. Amém”.
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