O mês de setembro é tradicionalmente conhecido como o Mês da Bíblia, uma homenagem a São Jerônimo, cuja festa celebramos no dia 30. É uma grande oportunidade que temos para reforçar a importância da Palavra de Deus em nossas vidas, e também em nossas celebrações.
Como podemos aproveitar essa motivação? O que fazer para valorizar a liturgia e as celebrações da Palavra? Certamente não será fazendo um altar ou estante concorrente à Mesa da Palavra (ambão) para expor à assembleia uma Bíblia bonita! Muito menos congestionando a celebração de cantos que “falam” da Bíblia, mas desconexos da própria liturgia da Palavra ou fazendo entradas “criativas” com a bíblia com dancinhas, elementos alegóricos (bíblia dentro de um coco, por exemplo) ou quaisquer coisas do gênero. Tende-se às vezes a transformar o mês da Bíblia em mês de “entrada da Bíblia”. Com essa pedagogia velha e ultrapassada se esvazia o rito e condicionamos nossas celebrações a entradas temáticas.
A importância da mesa da Palavra
A Igreja sempre venerou as Escrituras Sagradas, como venerou o próprio Corpo do Senhor, porque, de fato, principalmente na Sagrada Liturgia, não cessa de tomar e entregar aos fiéis o Pão da Vida, da mesa tanto da Palavra de Deus como do Corpo de Cristo. (cf. DV 21).
“A Palavra de Deus não vale menos que o Corpo de Cristo. E por isso, todo o cuidado que tomamos quando nos é dado o Corpo de Cristo, para que nenhuma parte escape de nossas mãos e caia por terra, tomemos esse mesmo cuidado, para que a Palavra de Deus que nos é entregue, não morra em nosso coração enquanto ficamos pensando em outras coisas ou falando de outras coisas… Pois aquela pessoa que escuta de maneira negligente a Palavra de Deus, não será menos culpada do que aquela que, por negligência, permitir que caia por terra o corpo de Cristo”(Cesário de Arles, Monge. 470-543).
Quando Deus fala à comunidade reunida, algo grandioso acontece: libertação, salvação, comunhão… “A Palavra na celebração se converte em SACRAMENTO por intervenção do Espírito Santo…” (ILM, 41).
A comunidade se reúne para fazer a memória de Jesus, lendo e atualizando as Sagradas Escrituras. Ela lê, ao mesmo tempo, a Bíblia e a vida. Busca discernir nos acontecimentos da vida pessoal, comunitária e social, os passos do Senhor que salva e transforma com o dinamismo do Espírito.
A celebração da Palavra é uma verdadeira ação litúrgica: é parte integrante do Mistério Pascal de Jesus e da nova Aliança realizada por Ele. É uma palavra eficaz: faz acontecer a Páscoa, porque passamos da morte para a vida, do egoísmo para a fraternidade. Por isso falamos que ela é sacramento! É anúncio e manifestação do Reino de Deus. É denúncia das forças da morte que procuram impedir a vinda do Reino de Deus. É apelo de conversão, mudança de vida, santificação, solidariedade. É comunhão com o Pai por Jesus, Palavra Viva, no Espírito Santo; é comunhão também entre nós, na medida em que ouvimos a mesma Palavra do Senhor. É Jesus que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na celebração da comunidade. A Palavra é o próprio Cristo, Verbo de Deus feito carne, realidade humana, em nossa história.
O Espírito Santo está presente e atuante; orienta a comunidade, os ministros e cada fiel para que compreendam e aceitem a Palavra de Jesus, as promessas de Deus, a vida nova que recebemos de Cristo.
A comunidade é chamada a ouvir, receber a Palavra no coração, deixar-se atingir e converter, responder à Palavra de Deus com a profissão de fé, a oração e a intercessão, o louvor e a ação de graças, o compromisso, a comunhão de vida. Também isso é obra do Espírito Santo em nós!
Dicas para valorizar a liturgia da Palavra
* Que em todo espaço celebrativo (igrejas, salões, etc.) haja uma mesa da Palavra (ou ambão) com toda a dignidade que ela merece. Haja proporção de harmonia entre o ambão e o altar (cf. ILM, 32), isto é, que se procure salvaguardar a unidade das duas mesas, sendo a mesa da Palavra do mesmo material e estilo da mesa do altar, e que não haja uma estante que lhe seja concorrente. Sendo assim, não há sentido alguém em duplicar a mesa da Palavra, fazendo um altar paralelo para expor a Bíblia. A Palavra não é para ser exposta, e sim lida e guardada no coração;
* Proclamam-se da Mesa da Palavra as leituras, Salmos, Evangelho, homilia, oração dos fiéis (podendo esta ser feita o meio da assembleia, em se tratando de grupos pequenos).
* Que haja um esmero ainda maior na qualidade da proclamação da palavra, de modo que, além de audível, o proclamador anuncie a Palavra do modo como requer o ministério: com boa comunicação e profunda espiritualidade;
* “Não é conveniente que subam ao ambão outras pessoas, como o comentarista, o cantor, o animador” (ILR, 33), e muito menos que se façam discursos ou se deem avisos nesse local reservado à Palavra e a seus ministros;
* É de fundamental importância que as leituras sejam proclamadas dos Lecionários, e nunca de folhetos ou livretos IGL 37). Ênfase seja dada sempre ao Evangeliário;
* Jamais se coloquem no data show os textos bíblicos do dia, nem mesmo imagens apelativas que distraiam a assembleia do ministro da Palavra, postado no ambão;
* Salmo também é Palavra de Deus. Responde à Palavra anunciada com a Palavra rezada e cantada pelo povo. Nunca deve ser substituído por um canto ou texto qualquer. Salmista exerce ministério específico. Portanto, quem canta salmo, na celebração em que exerce esse ministério, não canta no coral, mas permanece junto dos outros proclamadores;
* Recomenda-se, para maior proveito litúrgico, que se evitem comentários de qualquer espécie antes das leituras;
* Após a oração da coleta (primeiro “oremos”), é de bom senso e utilidade litúrgica cantar um canto de escuta, convidando a assembleia a uma escuta atenta e frutuosa da Palavra de Deus;
* Sendo o Evangeliário o livro da Palavra por Excelência, sempre que possível que ele seja entronizado na procissão de entrada da celebração, depositado sobre a mesa do altar até a aclamação ao Evangelho e levado solenemente em procissão até a mesa da Palavra, para a proclamação do Evangelho. Seja ladeado por castiçais durante a procissão, recomendando-se, ainda, o uso de incenso. Já o Lecionário permanece desde o início na mesa da palavra, não sendo necessária sua entronização;
* A Palavra também é valorizada por momentos de silêncio após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecendo a atitude de escuta e acolhida. (Guia Litúrgico Pastoral, p. 32)
* Os cantos da celebração, mesmo em se tratando de meses temáticos (como o mês da Bíblia), devem ser escolhidos a partir da Liturgia da Palavra de cada celebração. Portanto, não se cantam cantos que “falam” da Bíblia, só por ser mês de setembro;
* Sugere-se à equipe de celebração, especialmente os ministros da Palavra, que se preparem dignamente para o anúncio da Palavra, fazendo uma leitura orante, durante a semana, do texto a ser proclamado na celebração litúrgica.
Por Pe. Vanildo de Paiva – Especialista em Catequese e Liturgia.
Via Catequistas em Formação
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