No trabalho pastoral nas comunidades, vivemos momentos de muita paz, alegria e comunhão. Também passamos por tribulações, desencontros, discordâncias que fazem parte de nossa imperfeição. Por isso, Jesus sempre nos chama à conversão, ao aperfeiçoamento, à santidade.
Se problemas aparecem na nossa convivência comunitária, eles precisam ser resolvidos com humildade, diálogo, paciência, compreensão e abertura de coração aos irmãos.
Lembro-me de um fato que presenciei ainda seminarista. Duas senhoras limpavam toda semana a capela de um dos bairros que pertenciam à paróquia. Eram unidas, trabalhavam juntas com todo entusiasmo e zelo pelo espaço sagrado até que algo aconteceu e elas brigaram. Depois disso, não se falavam mais e pararam de limpar a igreja. O padre da paróquia foi visitar a casa de cada uma delas e pediu para que se perdoassem e voltassem a cuidar da igreja, onde celebrávamos a Missa aos domingos. Elas aceitaram, mas impuseram uma condição: não fariam o trabalho juntas. Haveria uma escala e, a cada semana, uma faria o serviço. O tempo foi passando e as coisas se acalmaram até que uma delas confundiu o seu dia na escala e foi no mesmo dia da outra. Elas se encontraram. Resultado: começaram a discutir e a dar vassouradas uma na outra, proferindo palavrões dentro da igreja. Era vassoura nas costas de uma e vassoura nas pernas da outra, além de uma gritaria que chamou a atenção dos vizinhos. Eles ligaram na matriz e corremos para lá para contornar a situação. Graças a Deus, ninguém se machucou. O padre e eu sentamos com elas, conversamos, orientamos e, para nossa felicidade, com aquele momento de reconciliação, elas se perdoaram e voltaram a limpar a igreja juntas.
O grupo dos discípulos de Jesus também experimentava conflitos. No Evangelho de Marcos lemos: “Aproximaram-se de Jesus Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-lhe: ‘Mestre, queremos que nos concedas tudo o que te pedirmos’. ‘Que quereis que vos faça?’. ‘Concede-nos que nos sentemos na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda’. ‘Não sabeis o que pedis’, retorquiu Jesus. ‘Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no Batismo em que eu vou ser batizado?’ ‘Podemos’, asseguraram eles. Jesus prosseguiu: ‘Vós bebereis o cálice que eu devo beber e sereis batizados no Batismo em que eu devo ser batizado. Mas, quanto a assentardes à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim: o lugar compete àqueles a quem está destinado’. Ouvindo isso, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João. Jesus chamou-os e deu-lhes esta lição: ‘Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes exercem poder sobre elas. Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo; e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos’” (Mc 10,35-45).
Muitas vezes, as pessoas querem tomar posse daquilo que pertence a todos. Se alguém ousa se aproximar daquele espaço que chamam de “seu”, os ânimos ficam exaltados e, aí, é “vassourada” para todo lado. Rezemos com o Papa Francisco nas últimas linhas da Carta Encíclica Fratelli Tutti: “Deus nosso, Trindade de amor, a partir da poderosa comunhão da vossa intimidade divina, infundi no meio de nós o rio do amor fraterno. Dai-nos o amor que transparecia nos gestos de Jesus, na sua família de Nazaré e na primeira comunidade cristã”.
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