O carmelita cresce durante o caminhar. Com isso quero dizer que o crescimento espiritual e humano de todo carmelita se dá no processo de deslocamento entre dois lugares: a cela e a capela.
A cela para o carmelita simboliza o lugar da solidão, do verdadeiro encontro consigo mesmo e com Deus. Longe dos olhos das outras pessoas, somente Deus nos enxerga e nos conhece. Na cela podemos rir ou chorar, mas, nunca poderemos nos esconder de Deus.
A cela é o lugar da intimidade aonde qualquer máscara vai ao chão, onde os sorrisos disfarçados são desfeitos e onde podemos falar com nosso melhor amigo sem intervenção de ninguém. É na cela que fazemos a experiência da profunda união espiritual ou também reconhecemos nossas misérias e percebemos o quanto estamos afastados de Deus. Nos momentos de dificuldades podemos até desejar que Deus saia de nossa cela, mas, sabemos que Ele jamais se retira e é ali que nos protege e nos levanta.
E a capela? O que significa para nós?
A capela é o lugar do encontro comunitário, onde posso elevar a Deus uma oração com meus irmãos. Na capela geralmente, não se reza sozinho, mas a nossa voz ou pensamento se une a tantos outros que louvam e agradecem a Deus. Na capela eu fico olhando para o meu outro irmão, independente de quem ele seja ou o que tenha feito, devo contemplar o próprio Jesus presente nele.
Isso não é tarefa fácil ou simples sentimentalismo, a vida de Santa Teresa de Lisieux nos mostra que essa é uma verdadeira experiência de amadurecimento espiritual: reconhecer no outro a obra de Deus. Se Deus é autor de tudo, ele também é autor daquele irmão que talvez não me agrade, mas, que sem dúvidas aos olhos de Deus é maravilhoso.
A vida comunitária nos recorda que não estamos sozinhos, que preciso dividir, compartilhar e pensar no outro. Percebo que eu não sou o centro do mundo e também tenho meus defeitos que precisam ser melhorados para o bem da comunidade. Assim como tenho qualidades que devem ser partilhadas. Afinal, que sentido tem uma lamparina escondida embaixo da cama? Nenhum. Deve estar ali para iluminar todo o lugar, nos ensina o Evangelho.
Enfim, quem é o verdadeiro carmelita… O da cela ou da capela?
O verdadeiro carmelita é aquele que percebe que a beleza está no caminhar. No percurso que se faz da cela para a capela e vice e versa. Não entendemos aqui os termos “capela e cela” de modo reduzido, mas significado de algo muito mais amplo. Ou seja, caminho da intimidade pessoal com Deus e o socorro aos irmãos que precisam da minha atenção. O carmelita é chamado a fazer uma experiência intima e profunda com Deus para sair em direção ao outro, isso ultrapassa os muros do convento. Diversas realidades do mundo precisam de nossa resposta decisiva e misericordiosa.
Se permanecermos somente na nossa experiência privada com Deus, por mais que essa seja maravilhosa, não será fonte de vida, não dará frutos. Se pelo contrário quero anunciar aos irmãos sem antes fazer a experiência pessoal com Deus, serei apenas repetidor das minhas próprias convicções e não um mensageiro da Palavra divina. Quem fica parado atrofia os membros, desaprende a caminhar. É no caminho de um lugar para o outro que perceberemos a beleza da vida carmelita, na solidão da cela e na fraternidade da vida comunitária.
Pedimos a Deus, a graça de crescer a cada dia como carmelitas, sabendo caminhar na oração pessoal e no serviço aos irmãos.
Frei Juliano Luiz da Silva, O.Carm.
Fotos: Monjas Carmelitas do Mosteiro de Cerredo (Itália)
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