De cavaleiro destemido a humilde peregrino. A jornada de Inácio é um testemunho poderoso de conversão e dedicação à fé. No dia 31 de julho, celebramos a festa de Santo Inácio de Loyola, um homem cuja vida foi marcada por uma notável transformação espiritual.
Depois que se recuperou de um ferimento de batalha, Inácio iniciou uma peregrinação que o levou a um encontro com Nossa Senhora de Montserrat em um mosteiro. Durante sua peregrinação de Loyola até Montserrat, ele refletia sobre as grandes obras que desejava realizar por amor a Deus.
O que muita gente não sabe é que a imagem de Nossa Senhora de Montserrat é carinhosamente chamada de La Moreneta, em português A Moreninha. Ela recebe esse nome devido à cor negra da imagem, resultante da fumaça das velas, caso parecido com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, no Brasil, que também é negra.
Mulheres negras são quase 28% da população brasileira, o maior grupo populacional do país, porém, mulheres e meninas negras são as pessoas que mais vivem em vulnerabilidade social; especialmente as moradoras de periferias, morros e favelas, enfrentam barreiras significativas no acesso a todos os tipos de direitos e serviços púbicos, inclusive aos meios adequados para questões de saúde. Por isso, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns alerta que em nossos tempos é preciso cuidar para que decisões de governo precipitadas não deixem de considerar adequadamente os direitos das mulheres e não as criminalizem em casos em que tenham sofrido alguma violência, especialmente aquelas mulheres em situação de vulnerabilidade.
Nossa Senhora de Montserrat tem uma história milagrosa. Segundo antigos escritos sua imagem foi encontrada por uns pobres pastorinhos em 880, em uma distante caverna na montanha de Montserrat, após seguirem uma luz misteriosa. Quando tentaram mover a imagem para o centro da cidade de Manresa, ela se tornou tão pesada que foi impossível movê-la, evidenciando o desejo da Virgem de permanecer no local onde fora encontrada, na periferia da montanha sagrada. “A Moreninha” queria permanecer com os pobres.
A Companhia de Jesus, congregação fundada por Santo Inácio de Loyola, tem como uma das suas prioridades de missão no tempo presente caminhar com os empobrecidos, os descartados do mundo, os vulneráveis em sua dignidade, em uma missão de reconciliação e justiça.
Para marcar sua nova vida, Inácio realizou uma vigília, vestido como cavaleiro, na noite anterior à Festa da Anunciação, em 24 de março de 1522. Doou suas roupas finas a um mendigo e vestiu-se com um hábito feito de pano de saco. Passou a noite ora em pé, ora de joelhos, diante do altar de Nossa Senhora de Montserrat, em oração fervorosa. Aos pés do altar, pendurou sua espada e seu punhal, simbolizando a renúncia às suas antigas aspirações de cavaleiro e a dedicação ao serviço de Cristo.
Após uma noite de oração, Inácio partiu de Montserrat ao amanhecer, desejando evitar qualquer reconhecimento e honra de nobre cavaleiro. Vestido humildemente, iniciou sua vida como peregrino, carregando apenas um caderno onde anotava suas descobertas espirituais. Esse caderno se tornaria os Exercícios espirituais. Assim, Inácio abraçava uma vida de quem caminha com os pobres, a exemplo do desejo de sua “Senhora Moreninha”.
A verdadeira transformação espiritual requer coragem, humildade e um profundo compromisso com a fé. Sua jornada de cavaleiro a peregrino nos convida a refletir sobre nossas próprias vidas e ambições. Quais são os nossos desejos profundos? Como queremos contribuir para o Reino de Deus? Nossa caminhada de vida também passa por caminhar ao lado dos mais empobrecidos e ajudá-los em seus direitos e necessidades? Assim como Inácio somos chamados a discernir a ação de Deus em nossas vidas e a responder com generosidade.
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