Jeremias, cujo nome é incerto, nasceu por volta de 648 a.C. Era filho do sacerdote Helcias, da cidade de Anatot (da tribo de Benjamim), próxima a Jerusalém. Sua vocação profética começa no reinado de Josias, mais precisamente quando o rei decide iniciar uma reforma religiosa no reino, impondo a prática da lei mosaica ao povo. É um dos profetas mais atraentes surgidos em Israel por conta de seu rico conteúdo, que leva em consideração o cotidiano simples das pessoas em suas aldeias. Para ele, Deus se comunicava nesses acontecimentos. Aos poucos, vai descobrir que seu ministério de levar a Palavra de Deus provocava escárnio, tornando-se um peso e ocasionando desânimo e sofrimentos.
Seus apelos de conversão têm a ver com a situação política da época, não muito diferente dos demais profetas que denunciavam as graves ameaças contra a vida humana. O sistema governamental era opressor e hostil com a eleição do rei Joaquim, que introduziu novamente no reino tradições pagãs abolidas pelo seu antecessor. Jeremias foi perseguido por confrontar as idolatrias e defender a lei de Moisés. Nessa luta, sentiu-se abandonado por seus parentes e compatriotas, vivendo solitariamente em meio a uma guerra ideológica. Em dado momento, não tinha mais prazer em anunciar suas profecias e questionou Deus por sentir-se fracassado. É um profeta que enfrentou sua depressão, sofreu com sua mensagem, mas, seguiu no caminho da vontade de Deus.
Sua vocação deve ser entendida como dom divino. Ele mesmo se opôs a esse chamado, considerando-se incapaz de falar. No entanto, a voz de Deus o seduziu e fez com que percorresse o caminho da santidade e da verdade. Um caminho, segundo ele, ardoroso.
Jeremias representa a figura de um mártir cuja missão é aprender o amor. Na entrega a Deus, sacrifica-se para receber o amor. O mártir é consciente de sua luta pela libertação, tornando-se protagonista da compaixão de Deus pelo povo. Sua entrega sofredora integra as potencialidades, fazendo com que o sofrimento seja acolhido com maturidade.
Jeremias também passou por dúvidas e teve que ressignificar sua existência junto a Deus. Sua profecia é a total defesa de Javé por meio da restauração do culto ao Deus único. Quis que o povo vivesse a plena aliança com o Senhor assumida no Sinai por Moisés. A lei seria inscrita no coração de cada israelita, fecundando a íntima união com o Altíssimo. Esses elementos estavam se perdendo e se instalava um vazio espiritual, ferindo cada israelita. Somente Deus poderia preencher esse vazio e conduzir o povo à felicidade eterna.
Jeremias é o profeta mais revelador, que amava seu povo e o defendia, pois conhecia os pormenores da vida comum. Sabia qual era a verdadeira e a falsa profecia: “Se tu, Israel, voltares – oráculo do Senhor –, se voltares para mim, se ante meu olhar te despojares de tuas práticas abomináveis; se não andares a vaguear de um lado para outro, se pela vida do Senhor jurares, lealmente, com retidão e justiça, então as nações te incluirão em suas bênçãos, e almejarão partilhar de tua glória” (Jr 4,1-3).
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