Miqueias, cujo nome significa “quem como Javé”, nasceu em Moreshet-Gath, a 35 quilômetros de Jerusalém, no século VIII a.C. Era um homem do povo, criado na zona rural, e falava com simplicidade. Foi vítima das opressões. Fazia parte do reino de Judá e sua cidade era cercada por fortalezas e quartéis com numerosos soldados e oficiais para garantir a segurança do reino. Viveu num ambiente cercado por grandes proprietários de terra, altos impostos, muitos problemas sociais como roubos, trabalho escravo, prostituição e aldeias sendo saqueadas. Atuou nos reinados de Joatão, Acaz e Ezequias e era contemporâneo dos profetas Oseias e Isaías.
A definição de seu nome já nos introduz em sua missão, marcada por uma profunda experiência de Deus revelada por meio de visões. Esse profeta, imerso na realidade conflitante do povo, começa a denunciar os abusos de autoridade dos governantes, suscitando incômodo. Suas denúncias estão ligadas à dominação dos lavradores por meio de corrupção, exploração, propinas, interesses em poder, massacre dos pobres e indefesos.
Sua fé foi alimentada desde a infância em um ambiente temente a Deus e marcado pelo desejo de justiça. A esperança era o selo de sua existência e por ela se ocupou até o fim de sua vida.
Miquéias, em seus escritos, refletiu sobre as duas classes de autoridade que exercem influência direta nas pessoas. A primeira é a autoridade falsa exercida pelos governantes civis, que amam a maldade e detestam o bem, a dos líderes religiosos, que se corrompem esperando pagamento e a dos líderes morais que usam o povo para guerrear em nome da paz. A outra é a autoridade verdadeira, alimentada e administrada por Deus, que gera paz e salvação.
O mais importante na pregação de Miqueias é fazer as pessoas retornarem ao verdadeiro templo de Deus e colocá-lo no centro de sua peregrinação. É dessa forma que o pecado será exterminado e Jerusalém voltará a ser a cidade santa onde o amor brilhará. “Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com humildade diante do teu Deus” (Mq 6,8).
A promessa que Javé faz a Miqueias é reaver o seu povo perdido moralmente e explorado pelos poderosos. A bondade de Deus em proteger seu povo é marca nesse profeta. O amor e a fraternidade é que estabelecem vínculos de paz e intimidade com Deus e o próximo, por isso, é direito que todos tenham a dignidade assegurada pelos líderes civis e religiosos.
Miqueias propõe a formação de uma consciência moral reta que assegura os valores éticos fundamentais, sustentando a comunidade humana e transformando-a num espaço de encontro e paz. É preciso reeducar ética e religiosamente a sociedade que prioriza o ter sobre o ser, restaurando o indivíduo para um mundo melhor onde a liberdade e a responsabilidade sejam marcas de seu compromisso com o Reino de Deus. Nesse sentido, podemos colocar em prática os desejos de Deus para que a vida tenha sentido e o bem prevaleça. Só o amor transfigurante do Senhor pode dar ao ser humano a resposta para cumprir sua missão de ser filho amado e escolhido.
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