“(…) a boca fala daquilo de que está cheio o coração” (Mt 12,34): as palavras passam por um fino processo mental, psíquico e estrutural – consciente e inconsciente – antes de chegarem aos lábios. Não percebemos o processo em sua totalidade devido à rapidez dos pensamentos e também porque falamos muito mais do que meditamos, ou seja, cedemos mais aos impulsos de falar do que à elaboração das ideias e sentimentos.
Por que meditamos tão pouco durante a vida? Talvez seja uma forma de negar a responsabilidade de aprender a pensar e de se esconder de si mesmo. A tecnologia trouxe grandes avanços, mas, quintuplicou o número de palavras no quotidiano e as redes sociais tornaram-se um campo fértil que estimula a verborragia e que tem levado muita gente a problemas graves de saúde psíquica. No entanto, o inconsciente não dorme nem faz pausa e muitas palavras “não pensadas” chegam à boca, substancializam-se, formam opiniões, influenciam comportamentos, iludem vidas. Um coração confuso e iludido cria palavras que não terminam em nada.
A oração católica é dotada de anseio, uma força que parte do centro do coração humano. Como? Primeiro, começa no interior e depois se dirige à fala. A música católica é expressão desse anseio, um encontro da vontade humana com a vontade divina.
A função da música litúrgica é criar acesso ao sagrado que já se encontra no coração de cada um. Anselm Grün diz algo fundamental sobre a oração no livro Liturgia das horas e contemplação que é exatamente o espírito da música católica: “O ser humano começa a rezar no interior, porque irrompe nele o anseio. A oração exterior é, então, expressão desse anseio interior. Mesmo que esse anseio se expresse apenas numa simples oração vocal, essa oração pode ser um eco do anseio mais profundo do nosso coração. E seríamos injustos com essa oração se disséssemos que ela é apenas vocal. Toda oração exterior é expressão do anseio mais íntimo do coração e emanação da fonte interior, que jorra no fundo da alma. A precondição de toda oração é que Deus já está em nós. O Deus que ansiamos já está em nosso coração. Na meditação e na oração não recebemos algo vindo de fora, mas entramos em contato com o fundo da nossa própria alma, onde Deus já habita. O objetivo da nossa oração já está presente em nós”.
O cristão busca a melodia interior, a voz melodiosa e sábia da vontade de Deus, não uma postura verborrágica ou com sons que só fazem barulho para nada. A música interior está pronta para ser descoberta, desenvolvida, canalizada para o bem comum, ou seja, para tornar-se caridade. É preciso escolher o caminho da humildade e da meditação para que o som produzido pelo músico seja fiel ao coração de Jesus, o Manso, o Humilde, o Pleno. No sagrado coração de Jesus encontramos a mais bela melodia e a única capaz de nos conduzir à vida sem fim!
Jesus, manso e humilde de coração, fazei os nossos corações semelhantes ao vosso!
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