“Aquele que dá testemunho destas coisas diz ‘Sim, eu venho em breve’. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 20,20)
A Igreja ensina que a fundamental aproximação aos mistérios que o cristão vive e celebra é anunciada e celebrada na sagrada liturgia, especialmente na Eucaristia dominical, seguindo o pedagógico percurso do ano litúrgico.
Pois bem, o ano litúrgico se inicia com o Tempo do Advento. A comunidade eclesial fica à espera daquele que, revestido da nossa fragilidade, veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, Ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos (cf. Prefácio de Advento I).
Temos, então, duas vindas do Senhor: a primeira, no dia do Natal, em que o amor se fez carne na pequenez da humanidade (cf. Bento XVI); a outra, a segunda, o Senhor, revestido de glória virá no fim dos tempos. Entre uma e outra, caminhamos em esperançosa espera.
No próximo Advento (3 de dezembro, ciclo “B”/Marcos), o primeiro domingo orienta para a parusia, ou seja, a segunda e definitiva vinda do Senhor; o segundo e o terceiro domingo chamam a atenção para a vinda “contínua” do Senhor, convidando à conversão (segundo domingo) e ao testemunho em favor de Cristo (no terceiro), ambos realizados por João Batista; por fim, no quarto domingo, somos introduzidos à teologia da primeira vinda do Senhor: nascimento na humanidade, no meio de nós, com o anúncio à Virgem Maria.
A pedagogia do Advento visa a dispor a assembleia em atitude de “ardente desejo” por encontrar Jesus, rezando, vigiando, esperando responsavelmente, realizando obras em favor dos irmãos e irmãs de Jesus. Trata-se de termos uma atitude de espera para nos encontrar com Jesus no termino da nossa vida. É um processo, um caminho que vai se realizando no meio de nós (cf. Lc 17,20s). O Senhor não retorna mais “fisicamente”, senão em seu Espírito e, por meio dele, numa comunidade de pessoas, retorno evidenciado no mistério da liturgia (Constituição Conciliar
Sacrosanctum Concilium, 7).
Na verdade, Cristo poder vir a qualquer momento; sua vinda está pendente em todo momento da história; por isso, por certo não deve entender-se temporalmente como vinda pessoal de Cristo, mas que a vinda dele ao mundo é a ida do mundo até Ele, isto é, o desenvolvimento da história dos homens indo ao encontro da existência gloriosa do Cristo ressuscitado (cf. Cl 3,4 e Catecismo da Igreja Católica, 673-674). Na morte, Jesus vem ao nosso encontro, envolvendo-nos em sua justiça e misericórdia, no abraço fraternal de ressuscitados. Ele deseja nos encontrar nesse definitivo momento, olhando como transformamos o mundo que Ele entregará ao Pai a fim de que seja tudo em todos (cf. 1Cor 15,28). O Advento anuncia esse processo no tempo que brotou do coração cósmico do Pai e o Filho viveu nossos dias, tempo que o Espírito do ressuscitado transformou em tempo novo. Por isso, a festa do Advento merece o nome de “festa da volta” (cf. J. B. Libanio).
A seguir, coloco algumas breves sugestões para viver melhor o Advento:
Enfim, o Advento nos introduz no mistério do amor misericordioso de Jesus, em que Ele será tudo para as pessoas, para a criação e o cosmos. Esse processo, que teve início no parto inicial do big bang, terá seu cume na transformação – não menos grandiosa – delineada de forma impactante e contemplativa nas palavras de Paulo em 1Coríntios 15,24-26.28.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENTO XVI (Joseph Ratzinger). El Credo, hoy. Santander: Sal Terrae, 2012.
BLANK, Renold. Escatologia do mundo. Projeto cósmico de Deus. São Paulo: Paulus, 2001.
BRUSTOLIN, Leomar. Quando Cristo vem… A parusia na escatologia cristã. São Paulo: Paulus, 2001.
CHITTISTER, Joan. El año litúrgico. La interminable aventura de la vida espiritual. Santander: Sal Terrae, 2010.
GUARDINI, Romano. L’essenza del cristianesimo. Brescia: Morcelliana, 1993.
MICHELETTI, Guillermo D. Celebrar o ano litúrgico: Advento e Natal. São Paulo: Ave-Maria, 2012.
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