A vida na cidade é tentadora para aqueles que vão trocando as histórias em torno da matriarca e do patriarca pela caixinha mágica cujas novelas quebram tabus e mitificam a pseudofelicidade das grandes urbes. É a floresta de cimento que acolhe em suas ruas uma legítima aspiração de realização pessoal e dignidade de vida. Aí o relacionamento humano torna-se muitas vezes impessoal, distante, e assim se torna também o relacionamento com o sobrenatural. Não havendo lugar para um Deus Providência, próximo ao homem, Ele acaba por ocupar um pequeno e distante espaço de mantenedor da felicidade, da riqueza e da saúde, coisa que nós descobrimos que nem mesmo os grandes centros urbanos são totalmente eficazes em nos oferecer.
A religiosidade do homem nas grandes cidades é um dos maiores desafios em nossos dias e deve ser fruto de uma renovada e continuada reflexão. Quem oferecerá ao homem pós-moderno citadino a satisfação integral que ele tanto almeja? Os shoppings, cujas galerias se enchem mais que as assembleias, quais novos templos onde as divindades do marketing regalam materialmente os mortais consumistas? As dependências ou vícios capazes de alienar o ser para novas e perturbadoras místicas? E se na vida prática da cidade, ao dobrar da esquina se encontra uma padaria, drogaria ou mercadinho, porque não procurar o espaço religioso mais próximo, ainda que de outro credo? A vida plural da cidade não oferece todas as facilidades? Deus junto à minha porta, ou mesmo na minha casa, dentro de mim, à minha medida…
Deus é grande demais para se submeter e limitar às minhas elaborações e à minha imaginação, é um Deus pessoal e não individual, um Deus que se fez homem, não um homem que faz deus… Viver nas grandes urbes não deve significar uma autonomia fria e distante de um Deus que se fez carne, quis ter um rosto e falou ao homem de todos os tempos e de todas as nações, do campo ou da cidade. Há muitos que O procuram e cabe a cada um de nós conduzi-los e favorecer aquele mesmo encontro que nos seduziu e conquistou. Ele está presente no centro e na periferia, onde dois ou mais estiverem reunidos em Seu Nome, naqueles cristãos lábios que o pronunciam e anunciam. É com alegria que o Evangelho deve ser anunciado, e o Papa Francisco deixou-o bem claro na sua última Exortação Apostólica. Afinal, um cristão triste, é sempre um triste cristão.
A missão não ficou tão distante como em outros tempos. Hoje, ela começa na sua casa, junto a seus vizinhos, em seu bairro, na sua cidade e dispõe de variados e eficazes meios, além do pessoal e da proximidade que são insubstituíveis e de grande importância, complementados com a internet, redes sociais, celular, entre muitos outros. É este estado permanente de missão que o plano pastoral da CNBB nos propõe para este grande Brasil, partindo de um encontro e uma experiência com Nosso Senhor Jesus Cristo e da alegria do anúncio da sua Palavra.
Por Pe. José Victorino de Andrade, EP via Gaudium Press
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