Pelo pecado (original), o homem desligou-se de Deus, perdeu o “estado de graça” que o unia ao Criador. Rompeu-se um elo que o homem, em sua limitação, jamais poderia reatar. E ficou-lhe impressa a idéia da necessidade de expiar sua culpa. Este sentimento, em relação a Deus, manifesta-se na necessidade de “sacrifício”.
“O Homem é um animal religioso”. É um fato que se observa em todos os meios. Os que não sacrificam ao Deus Verdadeiro, sacrificam a algum falso deus. Sacrifício é uma oferta à divindade. Pode ser cruento ou incruento, isto é, com ou sem derramamento de sangue. Na Lei mosaica, o holocausto tinha por fim principal louvar e a adorar a Deus. (o nome vem do grego Holos, inteiro, e Kaustos, queimado0. Significa o domínio absoluto de Deus sobre suas criaturas.
O sacríficio expiatório era destinado a aplacar a cólera divina e a obter perdão dos pecados. Nele, uma parte da vítima era queimada no altar e a outra era consumida pelos sacerdotes. O sacrifício pacífico servia para agradecer a Deus ou solicitar-lhe benefícios. Uma parte da vítima era incinerada, outra era reservada aos sacerdotes e uma terceira, entregue aos que mandavam oferecer o sacrifício. O sacrifício, porém,não existiu só na Lei mosaica, mas em todas as religiões da antiguidade, tanto entre judeus, como entre pagãos.A Bíblia começa a narrar sacrifícios, logo a partir dos primeiros filhos de Adão e Eva e, daí, prossegue ao longo de toda a História Sagrada.
Abel oferecia os primogênitos do seu rebanho (sacrifício cruento) e Caim sacrificava (de modo incruento) os frutos da terra. Como se vê no Livro do Êxodo (13), e no Levítico (16), os judeus, fora da cidade, sacrificavam os animais primogênitos. E no êxodo, por exemplo, lê-se, ainda, a exigência de que os ossos (do Cordeiro pascal) não fossem quebrados (Ex 12, 46).
Os sacrifícios da “antiga lei” não passavam de sinais, e só valiam como figuras de sacrifício de Cristo, o sacrifício perfeito. O valor daquele sangue derramado estava em representar o Sangue de Cristo, o valor daqueles sacrifícios estava no fato de serem símbolos do Sacrifício da Cruz. A distância entre o homem (ofensor) e Deus (ofendido) é infinita. E para reparar a ofensa de um homem a Deus, a vítima perfeita só poderia ser um homem-Deus.
Por isso, para justificar o homem diante de Deus, Deus se fez homem e pelo homem sacrificou-se. Este é o mistério central de nossa fé, é o mistério capaz de transformar completamente uma vida, quando se vislumbra a sua grandeza; e fato capaz de renovar a face da terra, se os olhos dos homens se abrirem, procurando contemplar a Verdade, valorizando a Vida, a serviço do Amor.
Jesus é a vítima perfeita, o “Cordeiro de Deus” que tira os pecados do mundo. É chamado “O primogênito de toda a criatura” e, de fato, o é, duplamente: como Deus, princípio de tudo, e como homem-Deus, o primeiro da ordem restaurada. Morreu fora da cidade e, “para que se cumprissem as escrituras, não lhe quebraram os ossos” (Jo 19, 33-36).
Além de vítima perfeita, Jesus é, ao mesmo tempo, o sumo sacerdote, pois Ele mesmo ofereceu-se – “porque quis”. São Paulo fala de Cristo – o pontífice – que purificou o santuário, lavando-o com seu próprio sangue. “Pois se o sangue dos bodes santifica os maculados (figuradamente na antiga Lei), quanto mais o sangue de Cristo que, pelo Espírito Santo, ofereceu-se ele mesmo, sem mácula, a Deus, purificará nossa consciência das obras mortas para servir ao Deus Vivo?”
Pontífice é o que faz ponte. Jesus Cristo, o pontífice por excelência, Homem-Deus, Deus-amor, reatou aquele elo rompido. E o homem foi de novo integrado na ordem sobrenatural, foi-lhe restituída a graça e restabelecida sua adoção divina.
“Esta restauração sobrenatural operada por Cristo vai-se completando na História da Igreja, que constitui como que uma Segunda vida (mística) de Cristo (continuação histórico-mística de sua Encarnação). Só renunciando ao homem velho (Adão), nós nos configuramos com Jesus (o homem novo). “Ninguém pode servir a dois senhores”.
Podemos (e devemos) amar o mundo (tão belo!). Como obra do Criador; podemos (e devemos) trabalhar e colaborar para a sua maior perfeição e felicidade; mas, de modo nenhum, deixem-nos escravizar por ele ou sejamos ser seduzidos por sua vãs promessas. Procuremos, acima de tudo, “o reino de Deus e sua justiça”.
O mundo que nos arrasta para o chão é nosso inimigo. É o mundo invadido pelo demônio e que fez dele o seu príncipe. “Meu reino não é deste mundo” – disse o nosso Salvador, que chamou o demônio “príncipe deste mundo”. “De que adianta o homem ganhar o mundo, se perder a própria alma?”. Por isso cristão é o que profundamente ama com profundo desapego.
Cumpre ainda, acrescentar que “a Redenção perdoa (superabundantemente) a culpa do pecado (original e atual), mas deixa, como pena, o mal decorrente desses pecados, ou seja, dá ao homem a possibilidade de expiar a culpa que, sem a Redenção, não poderia ser expiada: é deste modo que o homem deve completar o que falta à paixão de Cristo”.
Para expiar pecados – nossos ou alheios – podemos, também, oferecer sacrifícios: trabalhos, sofrimentos, doenças, dificuldades. Esta oferenda, por amor a Cristo, unida ao Seu sacrifício (perfeito), reveste-se de extraordinário valor. Nossas penas tornam-se mais leves e, o que, muitas vezes, parece inútil e desprezível, pode Ter a força de converter um pecador, ser capaz de salvar uma vida. Numa cadeira de rodas, uma pessoa paralitica pode ser uma hóstia viva – e sua existência será luminosa”.
Em casos, por exemplo, de loucura incurável, cabe aos pais, irmãos, amigos, etc… a missão de sofrer pelo doente. E isso se aplica a qualquer enfermidade, a qualquer sofrimento. Isso é um mistério. Mistério de sangue que liga entre si os irmãos. De sangue que nos liga à cruz. De sangue que nos liga à Redenção. Certamente, a vida cristã não é fácil, (mas é muito bonita!)
Jesus – o Crucificado – nos disse: “Confiai! Eu venci o mundo.” Na Redenção, a Santíssima Trindade revelou o seu nome: Deus é Amor.
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