Quando o Papa Francisco diz que o celibato sacerdotal não é um dogma de fé e que a porta está aberta para mudar as normas, não significa necessariamente que isso será feito ou que será feito agora, mas que poderia acontecer de se aceitar o sacerdócio de homens casados se, em determinado momento, se visse necessário.
Mas o Santo Padre também afirmou que o celibato é um dom que o Espírito Santo deu à Igreja e que ele o valoriza muito.
O que o Papa disse
No contexto da sua viagem à Terra Santa, no último dia 26 de maio, o Papa Francisco concedeu uma coletiva de imprensa no avião de volta a Roma. Um jornalista alemão lhe perguntou, em concreto, se, em seu diálogo com o patriarca Bartolomeu, dos ortodoxos, haviam falado sobre a possibilidade de se mudar a norma do celibato sacerdotal na Igreja Católica.
O Papa respondeu: “A Igreja Católica já tem padres casados??, não tem? Os católicos gregos, os católicos coptas… No rito oriental, existem padres casados??. Porque o celibato não é um dogma de fé; é uma regra de vida que eu aprecio muito e creio que seja um dom para a Igreja. Não sendo um dogma de fé, sempre temos a porta aberta: neste momento, não temos em programa falar disso, pelo menos para já. Temos coisas mais importantes a abordar. Com Bartolomeu, este tema não foi tocado, porque é deveras secundário nas relações com os ortodoxos”.
Estas palavras do Papa causaram, no mínimo, estranheza entre alguns católicos, e é conveniente recordar alguns aspectos sobre o celibato sacerdotal dentro da Igreja Católica.
Uma norma derivada da experiência da Igreja
O fato de os padres não se casarem não é um mandato de Cristo, já que Ele ordenou os apóstolos e, pelo que se sabe, deles somente São João era solteiro.
Aconteceu a mesma coisa quando os apóstolos decidiram ordenas diáconos; deles se sabe, por exemplo, que o diácono Felipe tinha duas filhas que eram membros ativos da comunidade cristã, e São Pedro pediu a eles e aos bispos que fossem pais exemplares e esposos de uma só mulher.
Durante os primeiros séculos da Igreja, os três graus da Ordem Sagrada eram dados a homens casados.
Uma das características do cristianismo é o apreço ao celibato inspirado por Jesus, que nos fala dos que renunciam ao casamento pelo Reino dos Céus (Mt 19, 12); e por São Paulo, ele mesmo celibatário, que nos diz que o homem casado se preocupa por Deus e pelas necessidades da sua família, enquanto o celibatário serve a Deus com o coração indiviso (1 Cor 7, 32-34).
O celibato não é um mandato, é um conselho; e, como tal, foi pregado desde cedo na Igreja primitiva, pelos monges e virgens consagradas, que são como nossos religiosos atuais. No início, então, havia casados que eram ordenados sacerdotes, e monges celibatários que também eram ordenados padres.
Reconhecendo a excelência do celibato, a Igreja começou a pedi-lo àqueles que aspiravam a ser sacerdotes já desde o Concílio provincial de Elvira, na Espanha, no início do século IV, antes de que Constantino desse liberdade aos cristãos.
Foi no Concílio de Trento, iniciado em 1545, que a Igreja latina determinou que o sacerdócio fosse dado apenas a celibatários. A Igreja oriental, também católica, manteve a tradição de ordenar tanto casados como celibatários, opcionalmente, até hoje.
A definição deste tema se deve ao ataque das igrejas protestantes ao celibato, tanto nos sacerdotes quanto nos religiosos que foram suprimidos pela assim chamada Reforma, até hoje.
Situação atual
Quando o Papa Francisco diz que o celibato sacerdotal não é um dogma de fé e que a porta está aberta para mudar as normas, não significa necessariamente que isso será feito ou que será feito agora, mas que poderia acontecer de se aceitar o sacerdócio de homens casados se, em determinado momento, se visse necessário.
O que me chama a atenção é que, nas pesquisas realizadas sobre as profissões em que as pessoas são mais felizes, os sacerdotes costumam ficar nos primeiros lugares. E são celibatários!
Consideramos que nosso celibato não é algo que nos oprime, e sim que nos motiva a uma entrega generosa a Deus e aos nossos irmãos. Nas igrejas orientais, católicas ou ortodoxas, nas quais o celibato é opcional, vemos como são muitos os que, sendo celibatários, optam pelo sacerdócio.
O celibato sacerdotal não é um desprezo do matrimônio, sacramento excelente, mas uma consagração a Deus com todo o coração e para a vida inteira.
O fato de que alguns padres abandonem seu ministério para se casar ou sejam obrigados a deixá-lo não fala mal do celibato sacerdotal, já que a imensa maioria dos padres continua optando pelo celibato, e todos os anos são ordenados novos sacerdotes, adultos, que aceitam livremente seu celibato pelo Reino dos Céus, em uma época na qual a cultura predominante exalta a sexualidade e o prazer.
Artigo do Pe. Sergio Román, publicado por SIAME, via Aleteia
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