Abraão é o pai de todos os que tem fé. Acreditou em Deus e viveu segundo a fé. Na fé, praticou a justiça, até mesmo para com seus inimigos.
Impressiona, em Abraão, seu coração de pai. Acreditou que seria pai de um grande povo, em que todas as famílias da Terra seriam abençoadas (Gn 12,2s).
Durante 30 anos esperou e desejou o filho prometido por Deus. Sua casa se encheu de alegria quando Sara, sua mulher, engravidou. A palavra de Deus começava a se tornar realidade.
Abraão já era idoso quando Isaac nasceu. Além do amor de pai, dedicava ao menino um carinho e uma atenção de avô. Mas enquanto o via crescer, formava-se em seu coração uma nuvem de tristeza: deveria sacrificá-lo a Deus.
O povo de Canaã, que havia adotado Abraão como aliado e amigo, costumava sacrificar a Deus o que havia de melhor em sua vida: os primeiros frutos da terra, as primeiras crias dos rebanhos e, o que é mais incrível, os seus próprios filhos primogênitos.
Abraão era um homem religioso. Doía-lhe imensamente ter de sacrificar seu filho. Mas o faria, sem dúvida, se Deus lhe pedisse. O que o entristecia, porém, não era apenas a dor de perder o filho, pois sabia que nada se pode recusar a Deus!
O problema de Abraão era outro: como conciliar a exigência da religião com sua missão? Deus o escolhera para ser pai de um povo numeroso como as areias do mar. Parecia agora exigir duas coisas contraditórias: sacrificar o filho que seria a semente de uma grande nação. Que fazer? Era uma grande provação para o velho Abraão.
A Bíblia o mostra no admirável relato do capítulo 22 do Livro do Gênesis: “Deus pôs Abraão à prova” -nos diz o texto.
Abraão, homem religioso por excelência, vive até o fim essa contradição. Faz tudo o que é necessário para sacrificar o filho: pega o menino, sobe a montanha com a machadinha e com a lenha, amarra o filho e desembainha a arma.
Nesse momento preciso, um chamado do céu o interrompe e o ilumina: “Não estenda a mão contra o menino. Agora sei que você teme a Deus, pois não me recusou seu filho único!” Ao mesmo tempo, Abraão vê um cordeiro preso pêlos chifres num arbusto, e o oferece em holocausto em lugar do filho.
O segredo da fé é não querer resolver os problemas do nosso ponto de vista, mas confiar em Deus até o fim: fazer tudo o que ele nos parece exigir, mas permanecer aberto aos mínimos
sinais de sua vontade, que se manifesta nas pessoas e nos acontecimentos com que convivemos.
O sacrifício de Isaac revela dois aspectos profundos da história da salvação.
Primeiro: não se pode recusar nada a Deus, ainda que nos pareça absolutamente absurdo o que ele nos pede, como foi, para Abraão, o sacrifício do filho da promessa. É preciso ser fiel até o fim à nossa consciência religiosa, e fazer tudo que nos parecer realmente pedido por Deus.
Nada, porém, nos autoriza a seguir a nossa própria cabeça. Religião não é fanatismo. E preciso, sobretudo, ser fiel à realidade, aos acontecimentos, aos outros que nos vão mostrando o caminho a seguir através das exigências de justiça e de misericórdia que surgem a cada curva do caminho da vida.
Na nossa vida, nada acontece à toa. Deus escreve certo por linhas tortas.
Segundo: a prática da fé está na fidelidade à vontade de Deus manifestada nos acontecimentos inesperados de todo dia, como fora inesperado o aparecimento do cordeiro, preso no arbusto naquele preciso momento, sobre a montanha, que foi chamada de Deus dá sempre um jeito!
Sendo fiéis à realidade de cada dia, rotineira ou contraditória e incompreensível, estamos escrevendo a história da salvação.
Fonte: Catequisar
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