Para celebrar o Ano de São José, o Papa Francisco escreveu uma carta apostólica com o expressivo título Patris Corde, demonstrando que o esposo castíssimo de Maria amou Jesus com coração de pai. Entre os sete aspectos sobre os quais o sucessor de Pedro discorre, há um capítulo sobre o pai trabalhador. Nesse breve trecho, mas denso de conteúdo, podemos descobrir inúmeras indicações espirituais e práticas para todos nós que, de uma forma ou outra, somos trabalhadores.
O trabalho é algo presente na vida de todas as pessoas saudáveis, mas, às vezes, até os doentes trabalham. Pequeno ou grande, vistoso ou escondido, o trabalho faz parte da vida e é a fonte de subsistência para a maioria das pessoas. Até mesmo as portadoras de deficiências físicas, na maioria dos casos, exercem algum tipo de trabalho e, por vezes, destacam-se com artísticas obras. Por isso, podemos afirmar que São José é padroeiro de todos nós na condição de trabalhadores. Seu patrocínio nos indica duas coisas: como trabalhar e para que trabalhar.
O Papa Francisco afirma, em sua citada carta apostólica: “A pessoa que trabalha, seja qual for a sua tarefa, colabora com o próprio Deus, torna-se em certa medida criadora do mundo que a rodeia” (Carta Apostólica Patris Corde, 6).
O trabalho provém de Deus, é parte do plano divino ao criar a pessoa humana. A própria obra criadora do Pai é expressão de que o trabalho humano nasce da Trindade, uma vez que a própria Escritura Sagrada afirma que Deus trabalhou seis dias para criar todas as coisas e no sétimo dia descansou. Jesus afirmou “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho” (Jo 5,17). Assim, Francisco recorda que o trabalho faz parte também da obra salvadora de Cristo, afirmando que “O trabalho se torna participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as a serviço da sociedade e da comunhão” (Carta Apostólica Patris Corde, 6).
Frei Bruno Varriano, ofm, reitor dos santuários de Nazaré, na Terra Santa, lançou livro sobre a vida de São José em que discorre sobre o trabalho na carpintaria de Nazaré. Em artigo lançado dias antes, ele se expressa nos seguintes termos: “Exatamente daqui, de onde vos escrevo, Jesus adolescente e jovem saía para trabalhar na direção da cidade helenística de Séforis, acompanhado de seu pai São José. Essas experiências marcaram o Filho de Deus na sua humanidade” (Yosef, l’uomo che portò in braccio guidò, baciò diede da mangiare al figlio di Dio, in L’Osservatore Romano, 17 de março de 2021).
Sabe-se que a profissão de São José não era apenas de um simples carpinteiro, mas de um artesão que trabalhava com madeira, como se traduz do termo “tektón”, do grego, usado por Mateus em seu Evangelho. Jesus foi chamado de “filho do carpinteiro”, como está em Mateus 13,55, e também de “carpinteiro”, como se lê em Marcos 6,3 e em Lucas 4,22.
Neste tempo de pandemia, o trabalho passa por um período de grandes preocupações, pois muitas são as pessoas, mulheres e homens que têm perdido seus empregos, deixando suas famílias em estado de penúria. Papa Francisco, com o coração tocado pela dificuldade dos vulneráveis, escreve: “Neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a constituir uma urgente questão social e o desemprego atinge, por vezes, níveis impressionantes, mesmo em países onde se experimentou durante várias décadas certo bem-estar, é necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que dignifica e do qual o nosso santo é patrono e exemplo” (Carta Apostólica Patris Corde, 6).
Com os olhos voltados para São José, descubramos nele exemplos de como trabalhar, mas também de perseverança e de solidariedade com as pessoas em estado de vulnerabilidade.
Dom Gil Antônio Moreira
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