É próprio do ser humano sonhar alto, almejar coisas grandes. Existe um desejo de infinito em nossos corações. Os ideais de vida que buscamos alcançar ou a partir dos quais agimos e embasamos a nossa existência manifestam que somos insatisfeitos com o presente de uma vida sem sentido, estagnada: queremos sempre mais, estabelecemos metas que nos põem em movimento.
Geralmente, associamos essas metas e projetos de vida a uma realidade chamada vocação. Sentimo-nos chamados a desempenhar algo que, aparentemente, supera nossas atuais forças, mas, que nos impele a persegui-lo até, enfim, alcançá-lo.
Jesus também sonha alto para nós. Revelando-nos os segredos do coração do Pai, Ele nos diz qual é o ideal de vida que todos os homens e mulheres devem almejar: a perfeição cristã. “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Não existe exceção para a ordem do Senhor: a perfeição que Ele deseja para nós, e que tem como critério a perfeição do próprio Deus, consiste no elevado ideal dos seus discípulos.
Perfeição? Como falar em perfeição diante da fragilidade humana que constatamos em nós mesmos, na sociedade, no mundo? Não seria melhor uma proposta mais tímida, um ideal de vida menos ganancioso e mais realista? Não! A perfeição cristã, também conhecida pelo nome de santidade, é a meta à qual Deus nos chama, sem exceção! Fazendo eco ao ensinamento das Escrituras e da tradição cristã, o Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Lumen Gentium, recorda-nos que a santidade é um chamamento universal, não um ideal para uma casta de privilegiados, contudo, é preciso desfazer o estereótipo de santo que geralmente trazemos impregnado na nossa imaginação. Santo não é apenas a imagem de gesso ou resina que levamos em nossos andores, nas procissões de nossas comunidades paroquiais, tampouco é um estágio da vida a que chegam, exclusivamente, os religiosos e clérigos que cumprem metodicamente leis e mais leis, merecendo receber, no fim da vida, a condecoração dos heroicos feitos a que já estavam predispostos e predestinados a cumprir.
A santidade é outra coisa, muito mais profunda e viva! Relaciona-se com o amor: amor a Deus, em primeiro lugar, e amor ao próximo, como consequência do verdadeiro amor a Deus. Essa, porém, é apenas uma definição genérica, ainda incompleta, entretanto, nela já contemplamos a primazia do amor na compressão da santidade.
Se a santidade fosse reservada aos fortes e predestinados, teríamos que concluir que nem todos são chamados a amar, o que é um absurdo! O santo não é aquele que muito faz, mas aquele que muito ama e ama no mais perfeito e puro abandono, que ama com e como o próprio Cristo, nosso modelo de santidade (cf. Catecismo da Igreja Católica, 459).
Não nos iludamos: o santo não chega à proeza de amar como Cristo com suas próprias forças. Precede-o o amor de Deus, que nos amou por primeiro (cf. 1Jo 4,19), e sua divina graça, que nos transforma desde dentro, fazendo-nos participantes da essência e vida divinas, portanto, a santidade é universal porque o amor é universal: trata-se de amar verdadeiramente a uma pessoa divina, Jesus Cristo, configurando-se, sem reservas, a Ele. Porque todos somos chamados ao amor a nossa vocação é necessariamente a santidade. Não existe santidade sem amor e amor verdadeiro, desinteressado e puro, sem santidade.
A vocação à santidade não é um peso, uma obrigação inatingível. Não! É o desabrochar normal e natural de quem ama e se deixa aperfeiçoar pelo próprio Deus. “Alegra-vos e exultai”, assim começa o Papa Francisco em sua exortação apostólica sobre a santidade. A santidade é alegria, felicidade, uma boa nova: é viver o próprio chamado universal ao amor, correspondendo ao ideal de Cristo, que sonha alto para nós: sonha com o próprio Céu.
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