Este mês é marcado pelas festas juninas em comemoração a Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. Trazidas pelos portugueses para o Brasil no século XVI, as homenagens reúnem dioceses, paróquias, comunidades e famílias de todo o país com novenas, reza do Terço, quermesses, comidas típicas e muita alegria.
Lembro-me de que, quando ainda era menino, vivenciava todos os anos esse momento especial em minha família. Meus avós maternos eram devotos de São João e a gente comemorava no dia 24 rezando o Terço para ele e saboreando deliciosos bolos, pipocas, quentão, chocolate quente e canjica. Minha avó paterna, já viúva, fazia a festa para os três santos: rezava três terços e só depois disso as crianças podiam comer e dançar quadrilha. As duas festas eram muito animadas, mas, confesso que preferia a primeira, porque a gente rezava um Terço somente e já podíamos comer e beber. Eu dizia para minha avó paterna, Alice: “Aqui, na casa da senhora, essas rezas demoram muito. Faça como a minha avó, Isaltina, reza um Terço para os três santos e manda levantar o mastro”. Ela ria e respondia: “Para de preguiça, Agnaldo! Parece que está passando fome. Quanto mais a gente rezar, melhor!” Hoje, como padre, rio de tudo isso.
O Catecismo da Igreja Católica ensina a nós que essa religiosidade do povo, em seu núcleo, é um acervo de valores que responde com sabedoria cristã às grandes incógnitas da existência.
Ela tem uma capacidade de síntese vital; engloba criativamente o divino e o humano, a pessoa e a comunidade, a fé e afeto. Estabelece uma fraternidade fundamental, ensina a encontrar a natureza, a compreender o trabalho e proporciona as razões para a alegria e o humor, mesmo em meio de uma vida muito dura (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1.676). Nossa vida era dura! As famílias trabalhavam na agricultura, sob sol escaldante. O dinheiro era pouco, mas a amizade entre elas era imensa. Muita gente participava desses momentos especiais.
O tempo passou. Ainda, em nossos dias, vejo o povo realizando as festas juninas com a mesma alegria do passado. Fechando agora meus olhos por uns instantes, vêm à minha memória as pessoas sentadas em banquinhos de madeira ou em troncos de árvores dialogando, rindo, contando histórias até o momento de começar a reza do Terço. Também consigo me lembrar de meus avós, tios, primos e vizinhos carregando as bandeiras dos santos e cantando uma música simples que dizia: “Viva Santo Antônio, viva São João, viva São Pedro com a chave na mão”.
As coisas mudaram bastante na sociedade, mas as de Deus permanecem. É preciso cultivar essa riqueza religiosa, cultural, histórica e comunitária. Se no meu tempo de infância a realidade era mais rural que urbana e agora a vida corre veloz sempre é possível parar um pouco, sair das avenidas, fugir dos faróis das esquinas para acolher nossos irmãos para escutá-los com o ouvido do coração, como nos pede o Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano: “O homem tende a fugir da relação, a virar as costas e fechar os ouvidos para não ter de escutar. Essa recusa de ouvir acaba muitas vezes por se transformar em agressividade sobre o outro. Assim temos, por um lado, Deus que sempre se revela comunicando-se livremente e, por outro, o homem, a quem é pedido para sintonizar-se, colocar-se à escuta. O Senhor chama explicitamente o homem a uma aliança de amor, para que possa tornar-se plenamente aquilo que é: imagem e semelhança de Deus na sua capacidade de ouvir, acolher, dar espaço ao outro”.
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