Imaginem a seguinte situação: você está a caminho do trabalho, liga o rádio e ouve: “Bom dia, você está sintonizado na rádio que toca música e dá notícia para você relaxar e se manter bem informado.
Agora vamos para nosso repórter no helicóptero que sobrevoa a cidade nesta manhã: ‘Aqui do alto vemos o trânsito completamente parado por conta apenas do excesso de veículos. A companhia de tráfego informa que, no momento, todas as principais vias e avenidas estão congestionadas. E um alerta: devido à escassez de chuvas, a umidade relativa do ar está muito baixa com muitas partículas em suspensão, o que torna a qualidade do ar ruim, principalmente na região central. Por isso, evite sair de casa agora, use roupas leves e beba bastante água’”. Quem já não viveu essa situação? Principalmente em grandes centros urbanos isso acontece com ainda mais frequência.
Poderia exemplificar inúmeras outras situações que podem ser diferentes na forma e no contexto, mas com uma coisa em comum: o estresse. Trata-se de um estado de tensão gerado internamente pela percepção de estímulos externos que provocam excitação emocional. Quem está sob estresse crônico dificilmente o percebe, mas, quando alertado por pessoas do convívio próximo, descreve-o por sensações vagas como desconforto, irritação, medo, frustração, indignação, nervoso e impaciência.
Tido como um dos grandes males da vida moderna, é importante saber que o estresse, antes de ser uma doença, é um mecanismo de defesa vital do nosso organismo. Sob comando do sistema nervoso autônomo simpático (parte do sistema nervoso central que atua independente da nossa vontade), faz com que hormônios como a adrenalina e o cortisol sejam liberados na corrente sanguínea, causando uma série de adaptações orgânicas, como dilatação das pupilas e aumento da frequência respiratória (taquipneia), da força de contração do músculo cardíaco e da frequência cardíaca (taquicardia), além da redução do calibre dos vasos sanguíneos (vasoconstrição) e consequente aumento da pressão arterial. Tudo isso visando a preparar o indivíduo para enfrentar o perigo ou fugir dele com um único objetivo: a preservação da vida.
Quando ativado esporadicamente, o sistema nervoso simpático funciona como uma mola propulsora, uma injeção de ânimo que nos ajuda a superar situações de dificuldade. O problema é quando o estresse se torna constante ou mesmo súbito, porém, muito intenso. Evidências científicas mostram que a ativação excessiva do sistema nervoso simpático resulta numa série de consequências orgânicas negativas, como disfunção das células endoteliais (células que revestem a parede interna dos vasos), dislipidemia (aumento do colesterol no sangue), resistência à insulina (hormônio que facilita a passagem do açúcar do sangue para o interior das células), inflamação e estresse oxidativo (precursores da aterosclerose – deposição de gordura nas artérias), hipercoagulabilidade (maior chance de formar coágulos), levando ao desenvolvimento de um grupo de doenças que cresce ano após ano como hipertensão, diabetes e doença vascular aterosclerótica.
Para piorar a situação, quem está sob estresse crônico tende a um estado de depressão, muitas vezes subclínico, e acaba adotando ou intensificando hábitos não saudáveis, como fumar, não fazer atividade física, dar preferência a alimentos ricos em gorduras e carboidratos e pobres em fibras e vitaminas. A consequência disso é o crescente aumento das doenças cardiovasculares, em especial a hipertensão e o infarto.
Como reverter isso? O primeiro passo é reconhecer que você está sob estresse. Segundo, se não é possível eliminá-lo, o melhor é aprender a lidar com ele e fazer escolhas inteligentes. Estudos apontam que a capacidade de controlar os impulsos e desejos é uma das chaves para o sucesso de viver e trabalhar em harmonia com outras pessoas. Quem tem bom domínio sobre seus processos de raciocínio, emoções e comportamentos não só prospera na escola e no emprego como é mais saudável e popular e têm melhores relações íntimas.
Por Dr. Silvio Gioppato
Texto adaptado da edição de setembro. Para ler os conteúdos na íntegra, clique aqui e assine a Revista Ave Maria.
(Dr. Silvio Gioppato é médico cardiologista, coordenador médico-científico nos serviços de cardiologia invasiva do Hospital Vera Cruz, em Campinas/SP, e no Instituto Dr. Jayme Rodrigues do Hospital São Vicente de Paulo, em Jundiaí/SP. Membro da equipe de cardiologia invasiva do Hospital das Clínicas da Unicamp e também médico hemodinamicista colaborador do Hospital Bandeirantes, em São Paulo/SP).
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