Infelizmente, muitas vezes, nos perdemos pelos muitos caminhos deste mundo, porque, por orgulho ou por teimosia, insistimos em andar por onde queremos e não pelo caminho que Deus quer que sigamos. O caminho de Deus pode não ser o mais fácil, ou o mais curto, mas com certeza, Ele nos leva pelos caminhos mais acertados. Como é desagradável em uma longa viagem errarmos o caminho! Incrível, como o lugar desejado nunca parece chegar.
A nossa vida na fé também é assim. Se não nos deixamos guiar por Deus, erramos o caminho, e nos atrasamos para alcançar o que tanto desejamos: a verdadeira felicidade.
É muito fácil rezar com o salmista o Salmo 22:
“O Senhor é meu pastor, nada me faltará.
Em verdes prados ele me faz repousar.
Conduz-me junto às águas refrescantes,
restaura as forças de minha alma.
Pelos caminhos retos ele me leva,
por amor do seu nome.
Ainda que eu atravesse o vale escuro,
nada temerei, pois estais comigo.
Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo.
Preparais para mim a mesa à vista de meus inimigos.
Derramais o perfume sobre minha cabeça,
e transborda minha taça.
A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me
por todos os dias de minha vida.
E habitarei na casa do Senhor por longos dias”.
No entanto, parece que não é tão fácil assim de viver. Será que estamos deixando que Deus nos guie? Qual voz temos escutado? A voz do nosso egoísmo, a voz do mundo ou a voz do nosso pastor?
Jesus disse: “Eu sou o bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim, como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10, 15). Para seguir o Pastor são necessárias duas coisas: Escutar sua voz e confiar, abandonar-se aos seus cuidados.
Será que temos buscado estar com o Senhor? Com que frequência? Como está a nossa vida de oração? Nossos ouvidos e coração estão atentos aos Seus chamados?
Para abandonar-se é preciso acreditar nisso: Deus nos conduz em nossa caminhada para Ele. É Ele mesmo quem realiza em nós a santificação; não temos poder para guiar a nossa santificação. Só Deus sabe o caminho que temos de trilhar para chegar nela; e Ele nos leva por esse caminho quando nos abandonamos confiantes em Suas mãos.
A nós cabe nos entregar dóceis em Suas mãos como o barro nas mãos do oleiro, como ovelhas nos braços do Pastor, como a criança que é leva pelo pai, segurando em sua mão; sem perguntar o que Ele está fazendo conosco. Isso é abandonar-se em Deus. Nós não sabemos o que precisamos, muito menos qual é o caminho melhor a seguir; só Ele sabe por que nos criou e teceu cada fibra de nosso ser no ventre materno, como diz o Salmo 138.
Padre Joseph Schrijvers, autor de um livro fabuloso intitulado “O Dom de si”, insiste nisso: “Viver cada instante o dom de si, é um ato de amor a Jesus a cada momento, acolhendo sem questionamento, o que o Artista divino está fazendo”. Precisamos aprender a nos abandonar nos braços do Pai a cada dia. É um exercício de fé.
Podemos comparar o abandonar-se em Deus com o que Michelangelo fazia com um bloco de pedra. Ele dizia aos seus alunos, ao ensiná-los a trabalhar com arte escultural: “Aí dentro tem um anjo, vamos colocá-lo para fora. Vamos tirar com o cinzel, carinhosamente, o que está sobrando.” E o mármore precisa ficar quietinho e aceitar todas as batidas do Artista. É a obra de Deus em nós. Só um coração que ama a Deus entende e aceita tudo isso.
Engraçado como até na gramática não costumamos usar “abandonar-se” como verbo reflexivo, ou seja, quando o sujeito pratica e recebe uma ação. Não é comum abandonar a si mesmo. No entanto, na caminhada na fé, a linguagem é diferente. A gramática de Deus é outra. Para fazermos a vontade de Deus, e não nos perdemos pelo caminho, é preciso abandonar a nós mesmos para confiar única e exclusivamente nas mãos de Deus que é Pai, é Pastor.
Isso exige de nós atitudes de fé, confiança, humildade e perseverança, para que diante das muitas adversidades que enfrentamos na vida, não esmoreçamos; ao contrário, que possamos sentir a verdadeira paz de quem realmente acredita que Deus está cuidando de tudo. Pois um bom Pastor, jamais deixaria sua ovelha se perder.
Por Prof. Felipe Aquino via Aleteia
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