Estava na sala descansando depois de um dia de muito trabalho. A televisão estava desligada e o silêncio reinava naqueles momentos preciosos. De repente, o sol se escondeu no horizonte e a noite chegou. Comecei a ouvir um som diferente, insistente e que incomodava os ouvidos: cri-cri-cri… Pensei: “Que será isso?”. Levantei-me e saí pela casa tentando descobrir de onde vinha aquele barulho. Percebi, ao chegar a um dos corredores laterais da casa, que era dali que vinha o som, mas algo interessante acontecia: quando eu me aproximava da janela do meu quarto o cri-cri-cri parava. Quando eu me afastava, voltava a ouvir o tal de cri. Fiquei pensando o que seria aquilo e veio à minha memória os tempos em que morei e trabalhei numa fazenda, tempos de juventude: era o canto de um grilo. Por ser tempo de acasalamento, o macho faz cri-cri-cri para atrair a fêmea. Fiquei mais tranquilo!
Contudo, os dias passavam e o inseto não parava de cantar. Fazia barulho à noite inteira, até o amanhecer. Em um dos dias até brinquei: “Esse grilo deve ser muito feio porque nenhuma fêmea quer se casar com ele! Desse jeito, ele não vai me dar sossego!”. Mas, com o passar dos dias, fui me acostumando com o barulho e o canto do grilo já não me incomodava mais. Isso durou cerca de um mês, até que o tempo passou e o cri-cri-cri cessou. Acho que o grilo conseguiu formar sua família e voou para longe.
Refletindo sobre esse pequeno fato nos meus momentos de oração, percebi que, muitas vezes, isso acontece com nossa vida espiritual. Tudo vai bem até que algo começa a nos incomodar, sobretudo o pecado dentro do nosso coração. Nossa alma nos alerta quando nos afastamos de Jesus. O mais profundo do nosso ser, como aquele pequeno grilo, avisa-nos que algo não vai bem. Grita o tempo todo cri-cri-cri... Em um primeiro momento, isso mexe conosco, perturba-nos, bate em nossa consciência. Então, procuramos a causa do nosso problema e descobrimos perto da janela do nosso quarto interior aquilo que tem nos deixado tão infelizes. Entretanto, não resolvemos a situação! Não deixamos a Palavra de Deus nos tocar, nem procuramos o Sacramento da Reconciliação. Desse modo, o tempo vai passando e, pouco a pouco, acostumamo-nos com aqueles pecados. Quando um grilo dentro de nós começar a nos deixar inquietos, lembremo-nos do que nos ensina o apóstolo Paulo: “Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho, eis que tudo se faz novo! Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo, por Cristo, e nos confiou o ministério dessa reconciliação. Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!
Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus” (2Cor 5,17-21).
Neste mês dedicado à Bíblia Sagrada, vamos recordar o que nos ensina o Papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate: “O nosso caminho para a santidade é uma luta constante. Quem não quiser reconhecê-lo, ver-se-á exposto ao fracasso ou à mediocridade. Para a luta, temos as armas poderosas que o Senhor nos dá: a fé que se expressa na oração, a meditação da Palavra de Deus, a celebração da Missa, a adoração eucarística, a reconciliação sacramental, as obras de caridade, a vida comunitária e o compromisso missionário” (162).
Se algo está tirando nosso sono, causando tristeza, preocupações ou medo, o momento é de luta! Com a força da Palavra de Deus esses “grilos” voarão para bem longe de nossas vidas.
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