O título de Consoladora dos Aflitos tem sua origem no Grão Ducado de Luxemburgo, situado entre a Alemanha, França e Países Baixos, quando pelo ano de 1626 , essa localidade sofreu de terrível peste. Muitos foram os infectados, e dentre eles estava Padre Brocquart, um sacerdote jesuíta, que vendo a piora de sua situação fez uma promessa a Virgem Maria de que se Ela o curasse, ele se caminharia descalço até sua capela e lhe ofereceria um círio, o mesmo ficou curado milagrosamente e empenhou-se em terminar a construção da capelinha, na qual em 1627 foi introduzida uma imagem de Nossa Senhora com a invocação de Nossa Senhora da Consolação.
Muitas pessoas passaram a frequentar a capela, em espírito de oração e penitência, pedindo a proteção para suas famílias e o fim da peste, que cessa em 1628 com a intercessão de Nossa Senhora, nesse mesmo ano a igrejinha foi consagrada, e no nicho onde puseram a imagem inseriram a inscrição “Maria, Mãe de Jesus, Consoladora dos Aflitos”. A capelinha foi arrasada durante a Revolução Francesa e a imagem que lá era venerada, hoje se encontra na Catedral de Luxemburgo de onde irradia a consolação maternal de Maria sobre todos os peregrinos que lá visitam. Essa mesma Virgem foi proclamada em 16 de outubro de 1666, padroeira de Luxemburgo.
São Paulo ao falar sobre a consolação divina nos diz: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia! Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações” (II Cor 1, 3-5).
A fonte da consolação em nossas vidas é Deus, somente o Pai, pelo Filho, no Espírito Santo é capaz de levar ao nosso coração a consolação que não passa, mas Deus que é rico em misericórdia (Cf. Ef 2,4), sabendo de nossa fraqueza e miséria, elegeu a Santíssima Virgem Maria para ser no mundo a embaixadora de sua ardorosa consolação, isto fica claro nas aparições de nossa querida mãe, que sempre atenta às necessidades de seus filhos desce a nossa terra e nos abençoa, oferecendo-nos da parte de Deus o consolo e nos chamando a uma vida de maior entrega e adesão aos desígnios de Deus.
A consolação que a Virgem nos dá, não é somente aquela que enxuga as nossas lágrimas. Maria se põe ao nosso lado e nos acompanha nos caminhos da vida, ela que muito padeceu na vida é capaz de consolar, Ela que esteve de pé no Calvário, foi dada como Mãe a João, por isso é capaz de nos consolar, como afirma São João Henry Newman em seu comentário a litania lauretana: “Todos sabemos quão especial é o consolo de uma mãe, e nos é permitido chamar Maria de nossa mãe, desde o momento em que Nosso Senhor, na Cruz, estabeleceu a relação de mãe e filho entre ela e São João. E ela, em especial, pode nos consolar, pois experimentou maiores sofrimentos que a maioria das mães”.
Sobre a consolação de Maria Santíssima afirmava a carmelita carioca, Serva de Deus Madre Maria José de Jesus: “Maria é a saúde na enfermidade, a consolação nos trabalhos, a paz nas tentações, a luz na escuridão, enfim, a Medianeira de todos os bens”.
A Santa Igreja no Concílio Vaticano II, meditando sobre o papel de Maria Santíssima, também ofereceu sua palavra sobre a consolação que a ela exerce para com o Corpo Místico de Cristo, sendo um sinal de esperança e de incentivo para todos os crentes, que caminham nas estradas de Jesus, rumo à pátria definitiva: “Entretanto, a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor” (Lumen Gentium-68).
O tempo de angústia e de apreensão que estamos atravessando parece sem fim. A noite escura na qual fomos imersos ganha novos contornos cada vez mais dramáticos. O cenário é tétrico, e sobrevive em muitos corações uma profunda desilusão. Mas tendes fé! O Filho Bendito da Virgem Maria venceu o mundo (Cf. Jo 16,33)! E do alto do patíbulo da Cruz nos deu Maria para ser nosso consolo e auxílio neste vale de lágrimas!
Maria foi a consolação dos discípulos nos dias que antecederam a Ressurreição, e em todos os momentos da história da Igreja peregrina no mar agitado da história. Se o tempo presente nos traz aflições, se parece que caminhamos sem luz; não percamos a esperança, recordemos das palavras cheias de divina unção de São Bernardo: “Nos perigos, nas angustias, na dúvida. Pensa em Maria, invoca Maria. Que Ela não se afaste de tua boca. Que Ela não se afaste de teu coração. E, para obter o socorro de sua intercessão, não se esqueças de meditar o exemplo de sua vida”.
Quando cantamos o Ofício de Nossa Senhora do Carmo, clamamos suplicantes: “Senhora do Carmo, Mãe dos Carmelitas! Socorrei as almas, que vivem aflitas”. E com isso queremos dizer que Maria não é indiferente ao sofrimento de seus filhos, mas antes ela desce dos céus e nos socorre, assim como fez em 1251 quando vendo a aflição de sua Ordem, perseguida e atribulada de todos os modos, entrega o Santo Escapulário a São Simão Stock, como um sinal indelével de seu consolo e de sua proteção maternal e fraternal para com os carmelitas.
“Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rm 8,18). Olhemos para a Virgem do Carmo e contemplemos seu olhar compassivo, imagem do olhar de Deus. E assim como Santa Teresinha aflita pela perda da sua mãe; tomemos Maria por Mãe, assim como ela fez, e assim como ela seremos capazes de dizer: “Quisera cantar, Maria, porque te amo, porque, ao teu nome, exulta meu coração. E porque, ao pensar em tua glória suprema, minh’alma não sente temor algum”. A Virgem expulsa dos nossos corações o medo e nos introduz no certame do seguimento obsequioso de Jesus Cristo. Ela, nossa consoladora faz de nós sinais eficazes da consolação divina no mundo, de modo que, seguindo seu exemplo possamos ser homens e mulheres portadores da consolação, sobretudo na atual conjuntura que enfrentamos.
Santíssima Virgem, Senhora do Carmo, consoladora dos aflitos. Vinde em nosso auxílio no exílio dessa vida. Visitai as famílias enlutadas por terem perdido seus parentes e amigos nessa pandemia. Olha por aqueles que vivem sobrecarregados com o fardo do medo, da depressão, da solidão, do desemprego e do cansaço do enfrentamento dos desertos em que se encontram. Socorre Mãe as famílias aflitas pela falta do que é básico para a manutenção da vida. Inclina teus olhos misericordiosos para todos aqueles que suplicantes rezam de olhos fitos no céu: “Para os montes levanto os olhos: de onde me virá socorro? O meu socorro virá do Senhor, criador do céu e da terra” (Sl 121 1,2). Lança teu Escapulário nos lares marcados pela violência e a discórdia, pelas drogas e os vícios. Tu que és a Mãe primeira da Família Carmelitana reina em todas as famílias!
Nesses trezentos anos de nossa Província Carmelitana Santo Elias, sede também propícia a nós teus filhos, que ao longo de todos esses anos servimos ao teu Filho na oração, na missão profética e na fraternidade, e concede Mãe e Irmã nossa, que sejamos farol a apontar aos homens e mulheres de nosso tempo o porto seguro da salvação. Recorda-te Bondosa Mãe dos Carmelitas da tua promessa que não nos ilude, mas antes nos dá força para levarmos com alegria a nossa cruz, mesmo em meio às aflições, pois nesse purgatório de fadiga e dor vosso Escapulário é sinal de consolação e amor!
Nossa Senhora do Carmo Consoladora dos Aflitos, rogai por nós!
Frei José Lucas do Nascimento, O. Carm.
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