Em uma das suas homilias desta semana, o Papa Francisco perguntou o que aconteceria se os extraterrestres viessem ao nosso planeta, se seria preciso evangelizá-los também.
“Se amanhã chegasse uma expedição de marcianos, por exemplo, e alguns deles viessem a nós… Marcianos! Verdes, com nariz grande e orelhas pontudas, como as crianças os imaginam… E se um deles dissesse: ‘Quero me batizar’. O que aconteceria?”, perguntou.
Aproveitando o bom humor e a linguagem simples do Papa Francisco, podemos refletir: será que a Igreja já se pronunciou sobre a possível existência da vida extraterrestre?
Antes de abordar o núcleo da questão, é preciso fazer duas observações. A primeira é que esta questão pode ser tratada pela teologia (levando em consideração os conhecimentos da ciência), mas não pelo Magistério da Igreja. Se alguém procurar algum pronunciamento da Igreja sobre o tema, verá que não há nada.
A segunda observação é que a verdadeira questão não diz respeito à possível vida extraterrestre em geral, mas somente à possível vida inteligente. A existência de vida extraterrestre não inteligente, seja elementar ou complexa (uma bactéria, uma planta ou um animal) não tem relevância teológica alguma. É um assunto que compete exclusivamente à ciência, sem que apresente problema doutrinal algum.
Diferente é o caso de seres inteligentes alienígenas. De fato, alguns acham que sua descoberta acabaria com os fundamentos da fé cristã – baseando-se em uma interpretação literal dos primeiros capítulos do Gênesis, própria dos evangélicos protestantes, não dos católicos. Mas há certas dificuldades.
Do ponto de vista do que poderíamos chamar de “teologia da criação”, não há inconvenientes em ceder espaço a outros seres inteligentes. O universo é muito grande e Deus pode criá-los. O fato de que o homem apareça como rei da criação não tem maior alcance que seu próprio âmbito, até onde ele pode chegar. A Bíblia fala deste mundo, e não diz nada sobre outros possíveis mundos habitáveis ou habitados.
As dificuldades vêm da chamada “teologia da redenção”. Nela, vemos o que parece ser uma relação, já não privilegiada, mas exclusiva de Deus com o homem. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se encarnou, fez-se Homem, e este Homem está à direita do Pai, como juiz e rei universal.
Jesus pode ter feito o mesmo com outra espécie de seres inteligentes? Estritamente impossível não é, mas parece bastante improvável. No entanto, também é verdade que Ele pode ter escolhido outro caminho de salvação para eles.
Contudo, neste contexto, o aparecimento de outros tipos de seres inteligentes não parece encaixar bem, razão pela qual o mais razoável, sem descartar a possibilidade contrária, parece ser um pouco céticos sobre sua existência.
Poderíamos pensar que esta postura vai contra a ciência, mas não é verdade. Em nome da ciência, surgem muitas expectativas, de forma que parece estar cada vez mais próxima a descoberta de alienígenas, mas o fato é que até hoje não se descobriu nenhum indício de sua existência.
Além disso, o que a ciência mostra é que, conforme se conhece melhor a realidade extraterrestre, cada vez é preciso buscar mais longe. Há poucos anos, as expectativas se focavam em Marte (ainda hoje falamos de “marcianos” para nos referirmos aos extraterrestres), mas hoje já se descarta o sistema solar como habitat de alienígenas.
Conforme o conhecimento científico vai avançando, dentro de pouco parece que descartaremos uma distância menor que 10 anos-luz. E isso é muito longe (o Sol está a uns 7 minutos-luz). Por isso, o que a ciência realmente está fazendo parece ser acabar com as expectativas, ao invés de gerá-las.
Por Julio De la Vega Hazas via Aleteia
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